Você com certeza já ouviu falar de alguém que usou as chamadas “canetas para emagrecer” no seu processo de perda de peso. Esses medicamentos, que incluem o famoso Ozempic, entre outros, prometem um emagrecimento mais rápido e já foram recomendados por diversos influenciadores e celebridades. Contudo, usá-los sem recomendação médica é bastante perigoso.
A endocrinologista Milene Guirado explica que as canetas são dispositivos usados para aplicar, de forma subcutânea, medicamentos que imitam alguns hormônios naturalmente produzidos pelo corpo. Essas substâncias atuam diminuindo o apetite, aumentando a saciedade e modulando centros cerebrais ligados à fome e ao prazer de comer.
“A semaglutida e a tirzepatida, por exemplo, são análogos do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1). Além de ajudarem no controle da glicose, o que as torna úteis também no tratamento do diabetes tipo 2, elas promovem a lentificação do esvaziamento gástrico e agem diretamente no hipotálamo, reduzindo o apetite. A tirzepatida atua ainda em outro hormônio, o GIP, o que potencializa a perda de peso com menos efeitos colaterais”, informa.
Ou seja, as tais “canetas para emagrecer” são sim eficazes. O problema é que muitas pessoas as veem como a solução completa, e não parte de um tratamento, e as usam sem procurar um médico antes.
“O uso isolado dessas medicações pode levar a perda de massa magra, fraqueza, desidratação e deficiência de vitaminas e minerais, como vitamina B12, ferro e cálcio, por exemplo, o que pode evoluir para quadros de Osteoporose e até mesmo simular o diagnóstico de doença de Alzheimer”, diz.
Os perigos do uso sem orientação médica
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) seguiu o posicionamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) e anunciou no dia 16 de abril, uma diretriz obrigando as farmácias a reterem receitas de medicamentos como Ozempic, Wegovy, Saxenda e similares, que são usados para o emagrecimento. A decisão passará a ter valor 60 dias após a publicação no Diário Oficial da União (DOU).
A endrocrinologista explica que o uso dos medicamentos sem prescrição ou acompanhamento médico podem causar náuseas intensas, vômitos, desidratação e até mesmo pancreatite aguda. A médica também orienta que pessoas com histórico de doenças específicas, como Carcinoma Medular da Tireoide, não devem fazer uso desses medicamentos.
“Mesmo quando o paciente apresenta sobrepeso leve ou IMC dentro da faixa normal, mas possui acúmulo de gordura visceral, a mais perigosa, o uso pode ser benéfico. Mas cada caso precisa ser cuidadosamente avaliado por um profissional”, disse.
A especialista ainda alerta que em um mundo onde a estética pesa tanto quanto (ou mais do que) a saúde, o apelo de uma “injeção mágica” é grande. “As pessoas querem ficar magras, e não aprender a emagrecer”, comenta.
Sem mudança de estilo de vida, a medicação pode ainda levar ao conhecido “efeito sanfona”: emagrece rápido, mas recupera o peso logo depois. Além disso, o emagrecimento rápido pode ser um gatilho emocional. “Transtornos alimentares, depressão e ansiedade são riscos reais quando não há suporte psicológico durante o processo”, afirma.
Medicação não substitui alimentação e exercício
Por fim, vale lembrar que, mesmo durante o uso das canetas, a alimentação e a atividade física são indispensáveis. “É preciso musculação para evitar a perda de massa magra e um plano alimentar que reponha nutrientes. Afinal, o apetite fica reduzido”, destaca a médica.
A longo prazo, só com o equilíbrio entre alimentação, exercício, sono e controle emocional é possível manter os resultados.
