Imagine uma criança que mal consegue dar um passo sem ter alguém por perto, pronto para evitar cada obstáculo, suavizar cada tropeço e resolver cada problema que possa surgir em sua vida, mesmo conforme os anos vão passando e a adolescência vai chegando.
Parece seguro, não é? Mas o que fazer se esse excesso de cuidado, na verdade, acaba limitando o desenvolvimento emocional e a autonomia desse indivíduo? Esse é o dilema dos pais “helicópteros”, adultos que, movidos por boas intenções, acabam restringindo a liberdade e a capacidade de seus filhos ao tentar proteger cada aspecto de suas próprias vidas.
Ou seja, os pais “helicópteros” são aqueles pais que querem poupar os filhos de qualquer dificuldade ou divergência em suas vidas. Este é um estilo de parentalidade marcado pelo envolvimento extremo e pela vigilância constante sobre as atividades e escolhas das crianças ou adolescentes. Segundo a psicopedagoga Andrea Nasciutti, essa conduta pode gerar sérias consequências.
“Esse é um comportamento por parte das famílias que impacta negativamente o desenvolvimento saudável dos filhos, já que acaba comprometendo a construção de habilidades cruciais para uma vida adulta saudável e feliz, como autoconfiança, resiliência e independência”, explica.
Necessidade de estabelecer limites
É natural que os pais queiram intervir em situações desafiadoras, principalmente quando os filhos ainda são crianças ou adolescentes, como aponta Nasciutti, mas é importante entender que, para as crianças, crescer sob constante supervisão e intervenções pode gerar dificuldades e desencadear problemas de autoestima, Síndrome do Pânico e níveis exacerbados de ansiedade e estresse.
“Uma pessoa que não está preparada para solucionar situações conflitantes é uma pessoa insegura, que não tem resiliência, que não confia em suas atitudes, em suas escolhas e em si próprio. É muito provável que, ao chegar na vida adulta, esse indivíduo acabe se tornando alguém dependente emocionalmente de terceiros”, analisa.
Entretanto, driblar essa forma de agir pode não ser algo fácil para os pais, já que a linha entre ser autoritário e permissivo acaba sendo bem tênue. Portanto, é preciso haver equilíbrio. “Apesar de desafiador, o melhor caminho é estabelecer uma relação positiva e de conexão com os filhos, com espaço para o diálogo e o respeito mútuo. Adultos estabelecem parte das regras, mas constroem outras levando em consideração o posicionamento dos filhos, monitoram a conduta e valorizam suas atitudes positivas”, aponta Andrea.
Segundo a profissional, saber a hora de deixar com que eles resolvam suas questões, se frustrem ou vivenciem as perdas fará com que desenvolvam a confiança de que são capazes, bem como habilidades dialógicas e criativas de resolução de problemas. “Lidar com dificuldades, mesmo que não seja fácil, será também essencial para que se fortaleçam emocionalmente”, conclui a psicopedagoga.