O abuso psicológico é uma forma de violência silenciosa que atinge milhões de mulheres em todo o mundo. Apesar de não deixar marcas físicas, as consequências emocionais podem ser devastadoras, impactando a autoestima, a saúde mental e a capacidade de estabelecer relacionamentos saudáveis.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o abuso psicológico consiste em comportamentos repetitivos de manipulação, humilhação e controle, que têm o objetivo de minar a identidade e a autoconfiança da vítima. Esses comportamentos podem incluir:
- Isolamento: afastar a vítima de amigos e familiares;
- Desvalorização: ridicularizar, insultar ou menosprezar sentimentos e opiniões;
- Controle financeiro: reter recursos ou criar dependência econômica;
- Ameaças: fazer chantagens emocionais ou prometer consequências negativas caso a vítima não se submeta.
O psicoterapeuta Luti Christóforo, especialista em saúde mental e violência de gênero, explica que “o abuso psicológico é muitas vezes difícil de detectar, tanto para quem o sofre quanto para as pessoas ao redor, pois não deixa marcas visíveis. As cicatrizes são internas e podem evoluir para depressão, ansiedade e até pensamentos suicidas.”
Sinais de alerta
Conforme o psicólogo, algumas atitudes podem indicar que você ou alguém próximo esteja passando por abuso psicológico:
1. Sentimento constante de culpa ou obrigação
A vítima sente-se culpada por tudo que acontece de errado no relacionamento e acredita que deve se responsabilizar pelas emoções e comportamentos do parceiro abusivo.
2. Medo de expressar opiniões ou desejos
A pessoa evita dar opiniões ou falar sobre o que pensa por temer reações negativas, críticas agressivas ou punições emocionais.
3. Baixa autoestima crescente
Com o tempo, comentários depreciativos e manipulação constante fazem a vítima acreditar que “não é boa o suficiente” ou “não merece coisa melhor.”
4. Dependência emocional
O agressor cria uma dinâmica de incerteza e instabilidade que leva a vítima a acreditar que só pode contar com ele, aprofundando o ciclo de abuso.
5. Mudança drástica de comportamento
A pessoa passa a se isolar, recusa convites de amigos e familiares, aparenta tristeza ou irritabilidade constantes e evita falar sobre a relação.
Dificuldade em romper o ciclo de abuso
De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, grande parte dos casos de violência contra a mulher inclui elementos de abuso psicológico. Luti Christóforo explica que fatores culturais, sociais e históricos contribuem para a normalização de comportamentos abusivos.
“Há uma construção social que reforça a submissão feminina e a dominação masculina, o que facilita o surgimento de relacionamentos tóxicos. Muitas mulheres demoram a reconhecer o abuso porque, para elas, certas atitudes já foram naturalizadas como ‘ciúme normal’ ou ‘preocupação legítima do parceiro”.
Como sair desse tipo de situação?
Segundo o psicólogo, o processo de libertação pode ser longo, mas é essencial entender que o abuso não é culpa da vítima. “Quem sofre abuso psicológico muitas vezes se culpa por permitir que a situação chegue a certo ponto. Mas é importante ter em mente que toda relação abusiva é baseada em manipulação e desequilíbrio de poder. Com apoio adequado, é possível reestruturar a vida e reencontrar a liberdade pessoal”.
A seguir, o profissional dá dicas de como sair desse tipo de abuso:
1. Rompa o silêncio
Buscar ajuda de pessoas de confiança, amigos, familiares ou grupos de apoio é o primeiro passo para interromper o ciclo de violência.
2. Procure aconselhamento profissional
A psicoterapia pode ajudar a vítima a resgatar a autoestima e traçar um plano de ação para superar a dependência emocional.
3. Fortaleça redes de apoio
Conversar com outras mulheres, participar de grupos comunitários e ONGs ligadas à proteção feminina pode ajudar a vítima a perceber que não está sozinha.
Onde encontrar ajuda
Se você estiver passando por uma situação de abuso psicológico ou qualquer outro tipo de violência, denuncie através da Central de Atendimento à Mulher, canal nacional de denúncia e orientação, pelo número Disque 180, ou em delegacias especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) presentes em diversas cidades brasileiras.
Além disso, também pode encontrar apoio em serviços de saúde e assistência psicológica como o CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) e CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) que oferecem suporte jurídico e psicológico às vítimas.
