A depressão é uma doença multifatorial, séria e que sempre deve ser tratada. Porém, você sabia que uma das causas para os sintomas de depressão pode ser uma deficiência hormonal não tratada? De acordo com o Dr. Pedro Ferreira, médico especialista em reposição hormonal, muitas vezes o diagnóstico de depressão acaba não considerando esse problema, o que dificulta o tratamento correto.
A seguir, o profissional explica e tira as principais dúvidas sobre esse assunto:
Como diferenciar sintomas de depressão clínica de sinais de desequilíbrio hormonal na menopausa e andropausa?
A depressão, segundo critérios do DSM-5, exige pelo menos dois sintomas centrais: humor deprimido e perda de interesse ou prazer (anedonia), associados a alterações cognitivas e físicas por pelo menos duas semanas, com impacto funcional.
Já os sintomas do declínio hormonal — tanto na menopausa quanto na andropausa — mimetizam essa apresentação. Contudo, geralmente se manifestam de forma mais sutil, progressiva e associada a sinais físicos clássicos, como:
- Fogachos, insônia, sudorese noturna (em mulheres);
- Diminuição da libido, perda de força e ereções menos espontâneas (em homens);
- Ganho de peso, queda de cabelo, ressecamento da pele;
- Cansaço desproporcional, irritabilidade e déficit de memória recente.
O grande diferencial é que, na maioria dos casos hormonais, o paciente ainda sente prazer nas atividades — mas se sente “sem energia para aproveitar”, o que é diferente da anedonia profunda da depressão clássica. E mais: ao corrigir o perfil hormonal, o quadro costuma melhorar rapidamente, sem a necessidade de psicofármacos.
Por que tantos casos hormonais podem parecer com transtornos psiquiátricos?
De acordo com o especialista, isso ocorre porque os hormônios, como testosterona, estrogênio, progesterona, T3 e cortisol, regulam o cérebro. Assim, os sintomas geralmente ligados à depressão podem mesmo surgir nesses casos de desequilíbrio hormonal.
“Na prática, o paciente apresenta um quadro depressivo atípico: humor rebaixado, queda da libido, insônia e dificuldade de concentração, mas sem histórico pessoal ou familiar de depressão maior. É aí que o erro ocorre: muitos são diagnosticados com depressão leve ou transtorno de adaptação — e tratados com antidepressivos que apenas “silenciam” o corpo, sem resolver a causa”, diz.
Quais hormônios mais afetam a saúde mental — e como investigar de forma adequada?
Os principais hormônios com impacto direto na saúde mental, segundo o Dr. Pedro Ferreira, são:
- Testosterona: fundamental para regulação da motivação, libido, autoconfiança e energia vital, em homens e mulheres;
- Estrogênio: modula receptores serotoninérgicos e gabaérgicos, influenciando diretamente o humor, a ansiedade e o sono;
- Progesterona: possui efeito ansiolítico e estabilizador do eixo neuroendócrino, especialmente relevante no climatério;
- Triiodotironina (T3): regula o metabolismo cerebral e a velocidade do pensamento; sua deficiência funcional pode ocorrer mesmo com TSH normal;
- Cortisol e melatonina: atuam no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e na resposta ao estresse, impactando resiliência emocional e imunológica.
Embora exames laboratoriais como testosterona total, livre e biodisponível, estradiol, progesterona, TSH, T4 livre, e níveis séricos de vitaminas sejam úteis, é importante destacar que as metodologias atuais nem sempre detectam alterações sutis, que já seriam clinicamente significativas.
