Muitas pessoas convivem diariamente com um inimigo invisível – a dor crônica. Porém, algo que poucos sabem é que a razão dessa dor pode ser o estresse.
“Ele pode ser um gatilho importante para a dor crônica, especialmente quando prolongado, pois ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que regula a liberação de hormônios como o cortisol. Esse hormônio, em níveis elevados por longos períodos, pode alterar a forma como o cérebro e o sistema nervoso processam a dor, um fenômeno chamado sensibilização central”, explica o ortopedista Dr. Fernando Jorge.
De acordo com o médico, fisiologicamente, o estresse aumenta a liberação de citocinas pró-inflamatórias, que amplificam a inflamação no corpo e podem intensificar a percepção da dor. “Ele também provoca tensão muscular crônica, especialmente em áreas como pescoço, ombros e costas, devido à ativação constante do sistema nervoso simpático (o famoso “lutar ou fugir”)”, diz.
Além disso, ele acrescenta que o estresse desregula neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, que ajudam a modular a dor, tornando-a mais persistente. “Imagine o corpo como uma orquestra: o estresse é como um maestro que desafina os instrumentos, fazendo com que a “música” da dor toque mais alto e por mais tempo”, compara.
Isso acaba criando um ciclo vicioso. Afinal, a dor acaba apenas aumentando o estresse, o que causa mais dor.
“Como o estresse eleva o cortisol e as citocinas inflamatórias, além de causar tensão muscular e sensibilização do sistema nervoso, isso faz a dor parecer mais intensa. Por outro lado, a dor crônica é um fardo emocional. Ela pode gerar ansiedade, medo de movimento (cinesiofobia), frustração e até depressão, o que ativa ainda mais o eixo HPA e perpetua o estresse”, explica o Dr. Fernando Jorge.
Dores mais comuns
As dores mais ligadas ao estresse são aquelas que não têm uma causa física clara ou que persistem além do esperado. Algumas das mais comuns são:
- Cefaleia tensional (dor de cabeça em “faixa” ou aperto, muitas vezes associada à tensão muscular no pescoço e ombros)
- Dor lombar crônica (o estresse pode agravar a tensão muscular e a inflamação na região lombar)
- Fibromialgia (caracterizada por dor difusa, fadiga e sensibilidade, é fortemente influenciada pelo estresse)
- Dores articulares (como as de ombro ou joelho, que podem ser exacerbadas por inflamação sistêmica)
- Dor miofascial (pontos de dor em músculos, desencadeados por tensão crônica)
- Dor psicogênica (dor sem causa física evidente, diretamente ligada a fatores emocionais)
Tratamentos
Muitas pessoas, ao sentirem uma dor crônica, recorrem a analgésicos (como paracetamol ou ibuprofeno). Isso pode até ajudar a aliviar a dor no momento, mas não trata a causa, então apenas mascara o problema. Isso sem contar que o uso prolongado de analgésicos pode levar a efeitos colaterais, como problemas gástricos ou dependência (no caso de opioides).
“O ideal é combinar o alívio sintomático (quando necessário) com estratégias que tratem o estresse, como terapia cognitivo-comportamental (TCC), mindfulness ou exercícios físicos. O tratamento para dor crônica relacionada ao estresse é mais multidisciplinar e foca em abordar tanto o componente físico quanto o emocional”, indica.
Por fim, o médico reforça que buscar ajuda médica é fundamental para traçar o plano de tratamento. “A dor crônica e o estresse formam uma dupla que pode transformar a vida em um desafio, mas há esperança! Com uma abordagem que combine tratamentos físicos, emocionais e mudanças no estilo de vida, é possível quebrar o ciclo vicioso e recuperar a qualidade de vida. O corpo e a mente trabalham juntos, e cuidar de ambos é o caminho para o alívio duradouro”, finaliza o Dr. Fernando Jorge.
