O estresse provocado pela miséria e questões envolvendo dinheiro e finanças é mais um fator que prejudica o intelecto, como mostra outro estudo, este publicado em 2013 no periódico Science, com autoria de Jiaying Zhao, professor de psicologia na Universidade de British Columbia, no Canadá.
Estresse financeiro e desenvolvimento intelectual
A pesquisa da universidade canadense dividiu-se em duas etapas: a primeira envolveu 400 pessoas em um shopping center no estado norte-americano de Nova Jérsei e comparou quem ganhava um salário de 70 mil dólares por ano com quem vivia com 20 mil dólares anuais.
Os participantes foram solicitados a resolver problemas como um conserto repentino do carro, cujo custo poderia ser baixo (150 dólares) ou alto (1.500 dólares). Diante do primeiro cenário, ambos os grupos de pesquisados saíram-se bem em testes cognitivos. No entanto, quando lhes foi comunicado que o conserto seria mais caro (situação potencialmente mais estressante), aqueles de menor faixa salarial obtiveram uma performance significativamente pior em testes cognitivos e de inteligência fluida.
A segunda fase do estudo compreendeu 500 trabalhadores braçais de canaviais na Índia, cujos rendimentos variavam muito antes e depois da época de colheita. Em um mesmo teste aplicado sobre eles nesses dois contextos, os resultados foram diferentes – piores durante os períodos de vacas magras. Uma vez que é sabido que o cortisol, hormônio secretado em situações de estresse, prejudica o desempenho cerebral, essa é a explicação mais plausível para o déficit intelectual. É como se as preocupações decorrentes da pobreza já exigissem o suficiente dos neurônios, não sobrando energia para as demais funções.
“O ideal é que tivéssemos tempo e condições financeiras suficientes para dividir de maneira justa o trabalho e o estudo, mas nem sempre é possível conciliar, principalmente se tratando das classes baixas”, alerta a pedagoga Marília Freitas Rossi. “O rendimento cai e o tempo de estudo extraclasse é reduzido, sem contar as preocupações que se multiplicam. Conta-se sempre com o empenho e dedicação, porém, é bem difícil ter uma vida estudantil plena equilibrando-se entre trabalho e estudo. Se não é impossível, também não podemos pegar como base casos isolados como prova de que dá tudo certo sempre”, complementa a profissional.
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Texto: Marcelo Ricciardi/Colaborador – Edição: Victor Santos
Consultoria: Marília Freitas Rossi, pedagoga