Às vezes, lembranças de situações ruins podem nos deixar mal. Esses momentos são capazes de revelar como o cérebro humano é complexo: sem que haja nenhum acontecimento que traga a memória à tona, relembramos tudo perfeitamente, como se tivesse acontecido hoje. Além disso, de uma maneira impressionante, nos sentimos da mesma forma que no momento do acontecimento, por mais que tenham se passado anos e a emoção relacionada já não faça o menor sentido.
As lembranças estão interligadas aos cinco sentidos, pois são eles que captam os estímulos que são armazenados em nossos neurônios. Porém, ela também possui uma relação muito íntima com nossas emoções. Quanto maior o impacto emocional de uma informação no seu dia a dia, aumenta a chance de ela acabar se transformando em uma memória de longo prazo. Por exemplo: quem viveu a uma guerra dificilmente esquece o momento em que recebeu a convocação, devido ao grande medo que isso gerou.
Faça o teste: pergunte aos seus amigos se eles se têm lembranças de onde estavam durante os atentados de 11 de setembro de 2001. Por ter sido um evento relevante, que desencadeou grande comoção mundial, pode ter certeza que vários deles vão se lembrar, com detalhes impressionantes. No entanto, quase ninguém vai ter alguma memória marcante do dia 10, ou mesmo do dia 12. Isso é explicado pelo fato de que a emoção é um grande marcador para a nossa memória.
Mas o que isso tem a ver com a sua felicidade hoje? A resposta é simples: as emoções negativas também são marcadores de memórias. Assim, quando você vive alguma situação traumática, ela também vira de longo prazo e pode voltar à mente de vez em quando. Nesses momentos, é comum que o sofrimento volte, podendo causar até mesmo doenças psicológicas, dependendo do trauma, como explica o médico e terapeuta Marcelo Katayama: “essas memórias de fatos traumáticos geram no indivíduo adulto algumas ‘cicatrizes emocionais’, que são reações emocionais desproporcionais ao tamanho do estímulo.
Ansiedade, quadro depressivos, podem ter como raiz eventos que ficaram guardados nessas memórias. Não quer dizer que esses eventos sejam a causa de todos os casos de depressão ou ansiedade, mas em algumas pessoas traumas podem colaborar para o aparecimento dessas condições”.
LEIA TAMBÉM
Texto e entrevistas: Karen Barbarini – Edição: Giovane Rocha/Colaborador
Consultorias: Marcelo Katayama, médico e terapeuta