Assim como o sono, o coma é uma manifestação fisiológica, porém, diferentemente do primeiro, não se acorda com um despertador ou com alguém chamando pelo nome. Mas o que acontece com uma pessoa nesse estado? Por que há casos de pacientes que saíram do coma e relataram terem ouvido tudo enquanto estavam inconscientes? Estavam realmente inconscientes?
O que é o coma
Basicamente, no coma o indivíduo é incapaz de fazer o processamento de informações vindas de estímulos externos. Ou seja, os dados dessas ações chegam em uma região cerebral chamada córtex pré-frontal, mas a partir de lá não são processados.
Segundo a neurologista Julianne Tannous Cordenonssi, “há ausência ou extrema diminuição do nível de alerta comportamental, em que o indivíduo permanece não responsivo aos estímulos internos e externos”. No entanto, como explica a professora de neurociência Marta Relvas, isso não significa que o paciente não esteja recebendo os estímulos: “eles podem chegar, porém não serão decodificados ou processados nessa estrutura que promove o estado de consciência”.
No cérebro
Os impulsos são transportados em vias nervosas pelas sinapses dos neurônios (o meio de comunicação entre eles) e, com isso, os estímulos potencializam essa “conversa” das células. “Quando um estímulo é disparado, ocorrem trocas de cargas elétricas positivas e negativas no limiar da membrana neuronal, provocando uma ação. Isso independe da consciência”, explica a professora Marta Relvas.
Esse é o processo comum que ocorre em reações simples, como escutar e entender uma conversa. Entretanto, no coma, esse caminho não é completado. Os estímulos não são interpretados e decodificados, consequentemente, tornando-se impossível o reenvio para outras partes do cérebro: “pois é como se os neurônios do córtex estivessem sem cargas elétricas para realizarem as trocas iônicas deste potencial de ação”, afirma Marta.
Nível de consciência
Para medir o quanto o paciente está consciente, existe a escala Glasgow. Esse método utiliza indícios fisiológicos, como abrir os olhos (espontâneo, por som, por pressão, sem reação) e respostas verbais (orientado, confuso, emite palavras, emite sons, sem reação) e motoras (obedece comandos, movimentação localizada, flexão normal, flexão anormal, alongamento, sem reação) para avaliar em um grau de 3 a 15 pontos o nível de consciência em um quadro de dano cerebral.
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Consultoria: Julianne Tannous Cordenonssi, neurologista e neurofisiologista clínica do Hospital Sepaco, em São Paulo (SP); Marta Pires Relvas, professora de neurociência e educação de psicopedagogia e psicomotricidade
Texto: Giovane Rocha – Edição: Natália Negretti