Casos de exorcismo são mais raros do que se imagina. Ainda que algumas pessoas apresentem certos sintomas de possessão maligna, na maioria das vezes trata-se de doenças psiquiátricas ou psicológicas. Por isso, antes de optar por um ritual de exorcismo, a pessoa precisa passar por médicos especializados.
Sem confiar no médico
Existe uma crença popular de que a culpa de “estar doente”, no caso de doenças psiquiátricas e psicológicas, depende da determinação do indivíduo. E tal convicção prejudica o tratamento. Além disso, “se temos uma possessão, somos vítimas e não temos responsabilidade sobre isso, então menos culpa, menos responsabilidade”, explica a psicóloga Nara Matos. Assim, torna-se mais difícil para o paciente confiar em um médico. “O curador espiritual seria ‘encarregado de Deus’ e o psicoterapeuta ou médico é alguém que estudou e se especializou para isso, portanto, a desconfiança sobre ele é maior e é natural”, afirma.
Comportamento equivocado
Em outros casos, uma pessoa que adquiriu conhecimentos sobre possessão ao longo de sua vida (ao presenciar rituais religiosos ou assistir a filmes, por exemplo) sabe se comportar como alguém que está submetido à ação espiritual. “Então, ocorre um processo dissociativo, durante o qual o indivíduo se comportará involuntariamente, por vezes inconscientemente, conforme o papel do ‘endemoniado’ que o grupo conhece.
A doutrina e as crenças do grupo servem como sugestões de um hipnotista para o hipnotizado. O processo dissociativo é justamente colocado em atividade no momento em que o sujeito age automaticamente, mas exatamente conforme o esperado pelo grupo”, explica o psicólogo Wellington Zangari.
Palavra de especialista
Tal contexto reforça a ideia de que o indivíduo esteja possuído de fato, provocando apenas um controle parcial de seus movimentos físicos. Dessa forma, o ideal é que o acometido seja sempre consultado por um médico. De acordo com a psicóloga Renata Paes, “uma vez descartado qualquer transtorno orgânico, a conduta seria encaminhar para psiquiatria e psicoterapia. Estes profissionais avaliarão e poderão indicar o melhor tratamento.
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Consultoria: Nara Matos, psicóloga clínica e hipnoterapeuta; Renata Alves Paes, psicóloga cognitivo-comportamental com mestrado e doutorado em neurociências; Wellington Zangari, coordenador do Inter Psi – Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais e do Laboratório de Psicologia Social da Religião do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Texto: Érica Aguiar – Edição: Natália Negretti