Quase todos os povos, por mais primitivos que fossem, tinham (e ainda têm, no caso de tribos que continuam vivendo isoladas) uma crença na interação entre o mundo dos vivos e dos mortos. Ao mesmo tempo, ao longo da evolução humana, o mal esteve presente de forma incalculável e inesperada – como catástrofes naturais e doenças. Por isso, alguns rituais, como o exorcismo, existem há milhares de anos, antes mesmo do nascimento de Jesus Cristo.
Questão de sobrevivência
Enfrentar forças malignas, portanto, sempre foi uma necessidade de adaptação e de sobrevivência. “Para lidar com o mal, ou o ser humano simplesmente o aceita como algo real e inescapável, mantendo uma atitude de resignação, ou lida com ele de modo ativo. Assim, o ser humano foi construindo meios de lidar com algo que lhe é fonte de temor dado o perigo que representa à sua segurança”, explica Wellington Zangari, coordenador do Laboratório de Psicologia Social da Religião do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Antes mesmo de Cristo
Tribos e até civilizações maiores que viveram muito antes do surgimento do cristianismo já realizavam o que pode-se chamar de exorcismo. O maligno era tido como culpado pelas mais diversas ocorrências, como enfermidades. Para curar uma pessoa, era preciso expulsar o agente ruim. O responsável por essa cerimônia era chamado de xamã, que, entre várias atividades, também protegia contra o ataque do mal. Entre os babilônios, esses “exorcistas” eram chamados de ashipu.
Na antiga região da Mesopotâmia, mais ou menos onde hoje se situa o Iraque, pesquisadores encontraram registros escritos de fórmulas para exorcismo que datam de mais de 4.000 anos. O exorcismo medicinal também é mencionado nos textos sagrados hindus, os Vedas, escritos no primeiro milênio antes de Cristo. Ou seja, provas não faltam de que o ritual de expulsar o demônio do corpo é algo que existia bem antes do advento do cristianismo. Para os povos mesopotâmicos, os demônios eram os grandes causadores dos mais diversos problemas, desde pragas na colheita até doenças, como a diaba Lamashtu, culpada por partos darem errado; e Alû, que tinha como prática atacar as pessoas durante o sono.
LEIA MAIS
- Doenças psiquiátricas e psicológicas podem ser confundidas com possessão
- Qual a opinião da ciência sobre o exorcismo?
- O que é a possessão na visão da psicologia?
Consultoria: Wellington Zangari, coordenador do Inter Psi – Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais e do Laboratório de Psicologia Social da Religião do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Texto: Natália Negretti