O que leva muitos seres humanos a acreditarem em entidades superiores e terem medo do mal? A fé é a crença em uma realidade sobrenatural, impossível de ser testada por meio de métodos científicos. No entanto, a ciência vem tentando definir o fenômeno.
Processos dissociativos
Do ponto de vista científico, o exorcismo não deve ser considerado necessariamente como um problema psicológico, nem como um ato sobrenatural. “O exorcismo, em certos meios religiosos, é uma forma de lidar com o que, em psicologia e em psiquiatria, interpreta-se como processos dissociativos”, explica o psicólogo Wellington Zangari. Quando resultada de sofrimento intenso, violência sexual ou até agressões físicas, a dissociação psicológica pode ter um caráter patológico. Assim, como forma de proteger o indivíduo, o psiquismo “dá um curto-circuito”.
Segundo Zangari, a pessoa pode se esquecer momentaneamente dos episódios de risco ou comportar-se inconscientemente para afastá-los. Esse tipo de dissociação é classificada como defensiva, pois visa proteger o indivíduo do mal. “Por vezes, tal dissociação pode chegar a ser patológica porque vai prolongar o período de ruptura dos módulos (memória, percepção, controle motor, dentre outros) que geralmente se integram para a emergência unificada da consciência”, explica o especialista.
Convívio extremo
Zangari afirma que a dissociação que acontece nos rituais religiosos não pode ser facilmente identificada como patológica. Apesar de ter a presença de fenômenos dissociativos, as manifestações religiosas são coerentes com as crenças e doutrinas de uma religião. O especialista explica que, “dessa forma, não se trataria de uma dissociação defensiva, mas culturalmente disciplina, aprendida pelo indivíduo ao longo de sua permanência naquela religião e doutrinada, portanto, pelas interpretações daquele grupo”.
Força sobrenatural
Muitos relatos de exorcismos apontam que era difícil segurar a pessoa possuída por conta da força sobre-humana que apresentava. Contudo, os reflexos agressivos podem surgir devido a uma grande raiva, que pode provocar danos físicos. “Nesses casos, podemos verificar uma força descomunal, principalmente pelo aumento da dopamina no organismo, um neurotransmissor associado aos movimentos. Assim, quando o nível da raiva está alto, ela é perigosa”, explica a neuropsicóloga Renata Alves Paes.
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Consultoria: Renata Alves Paes, psicóloga cognitivo-comportamental com mestrado e doutorado em neurociências; Wellington Zangari, coordenador do Inter Psi – Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais e do Laboratório de Psicologia Social da Religião do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Texto: Érica Aguiar – Edição: Natália Negretti