O diagnóstico do câncer em estágio inicial é fundamental para aumentar as chances de cura. Porém, muitas mulheres ainda negligenciam alguns dos sintomas comuns de tumores no útero e ovário, como dor pélvica persistente, sangramentos irregulares e alterações menstruais, colocando sua vida e fertilidade em risco.
O câncer do colo do útero é o terceiro tipo mais frequente entre mulheres no Brasil, ficando atrás dos de mama e colorretal. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que mais de 17 mil mulheres tenham recebido o diagnóstico de câncer do colo do útero em 2023.
O cirurgião oncológico Marcelo Vieira, especialista em cirurgias minimamente invasivas, reforça que identificar esses sinais precocemente pode ser decisivo para a vida e a fertilidade das pacientes. “O diagnóstico precoce permite intervenções menos mutilantes, maior preservação dos órgãos reprodutivos e chances reais de gestação futura”, afirma o médico.
Efeitos do diagnóstico e importância do acolhimento
A notícia de um tumor afeta diretamente não apenas o corpo, mas o projeto de vida da mulher, principalmente quando a maternidade está entre seus planos. Para Marcelo Vieira, o impacto emocional do diagnóstico exige um cuidado ampliado, que vá além da cirurgia.
“É preciso considerar a saúde mental, oferecer suporte psicológico, garantir acolhimento e orientar a paciente sobre alternativas de tratamento que respeitem sua vontade de ser mãe. Essa escuta qualificada é essencial”, diz o cirurgião.
Além da saúde emocional, a alimentação e o estilo de vida influenciam diretamente na resposta ao tratamento. Dietas equilibradas, prática de atividade física moderada e sono regulado são aliados no controle inflamatório do organismo e na recuperação pós-cirúrgica. A construção de uma rede de apoio familiar, médica e terapêutica também contribui significativamente para o enfrentamento do tratamento.
Exames de rastreio e periodicidade
Para tumores no útero e ovário, o rastreamento ainda é o principal aliado da prevenção. O exame Papanicolau, por exemplo, é vital para o diagnóstico do câncer de colo de útero. Conforme o Ministério da Saúde, mulheres de 25 a 64 anos devem fazer o exame a cada três anos, após dois exames consecutivos anuais normais.
Além dele, a ultrassonografia transvaginal também ajuda no diagnóstico desses tumores, especialmente no caso de pacientes acima dos 40 anos ou em mulheres com histórico familiar de câncer ginecológico.
Já em casos de suspeita de câncer de ovário, cuja detecção precoce é mais difícil, os médicos podem solicitar exames de sangue como o CA-125 e realizar uma ressonância magnética. “Análises complementares devem ser indicadas com critério, mas é fundamental que o profissional esteja atento aos sinais clínicos, sobretudo em pacientes com histórico familiar”, alerta o especialista.
Fertilidade: decisões cirúrgicas fazem diferença
Um dos maiores temores após o diagnóstico é a perda da fertilidade. Em tumores de colo do útero em estágios iniciais, já é possível adotar abordagens conservadoras. O dispositivo Duda, por exemplo, tem sido utilizado em pacientes que passaram por cirurgia e desejam preservar a possibilidade de gestar.
“O uso do dispositivo Duda representa um divisor de águas. Mantemos o canal endocervical funcional, o que viabiliza o fluxo menstrual e futuras tentativas de engravidar. Essa tecnologia tem permitido que mulheres antes condenadas à infertilidade hoje sejam mães”, destaca Marcelo Vieira.
Estudo clínico conduzido no Hospital de Amor, em Barretos, no interior de São Paulo, com 240 mulheres, demonstrou que pacientes que receberam o Duda após cirurgia apresentaram maior preservação da anatomia uterina e taxas de gravidez superiores em comparação ao grupo controle. Os dados finais do estudo ainda estão em avaliação, mas os resultados preliminares reforçam a eficácia do dispositivo.