“Tudo que eu quis fazer, eu fiz”. A frase, dita por Glória Maria em entrevista ao Roda Viva em 2022, resume bem o seu tamanho e quem ela foi. Pioneira em todos os sentidos, a apresentadora faleceu na manhã desta quinta-feira, dia 2 de fevereiro.
Considerada como uma referência, Glória Maria abriu portas para profissionais negros ao longo de suas cinco décadas de carreira. Agora ela entra para a história como uma das mais talentosas profissionais que o jornalismo brasileiro já teve.
Por isso, que tal relembrar momentos marcantes da apresentadora? Selecionamos fatos importantes, dentro e fora da sua carreira, onde Glória fez revolução.
Adoção solo de suas filhas
Glória Maria deixou duas filhas: Maria (15) e Laura (14), ambas fruto da adoção. A apresentadora conheceu Maria, em 2009, durante um período sabático fora das telinhas. O encontro aconteceu na Bahia, enquanto ela fazia trabalho voluntário em um abrigo para órfãos. Quando deu entrada no processo de guarda, Glória descobriu que Maria tinha uma irmã biológica, Laura, que tinha apenas 22 dias de vida.
O processo de adoção das duas levou quase um ano e a apresentadora chegou a morar na Bahia durante esse período. No entanto, o que mais impressionou à época foi que Glória Maria adotou as duas crianças sozinha. A atitude fez com que a adoção monoparental se tornasse um assunto mais debatido na sociedade.
Até Madonna se apaixonou por Glória Maria
Ao longo de sua carreira, Glória entrevistou diversos famosos. Michael Jackson, Elton John, Mick Jagger, Freddie Mercury e muitos outros artistas, por exemplo, passaram pelos microfones da apresentadora. No entanto, uma de suas histórias mais marcantes aconteceu com a rainha do pop, Madonna.
Diante do nervosismo, sobretudo da situação de entrevistá-la, Glória Maria admitiu sua vulnerabilidade e confessou que estava nervosa. “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos”, contou a jornalista para o Memória Globo.
Apesar de toda situação, Madonna acabou caindo nas graças da apresentadora e concedeu o tempo que Glória Maria quisesse para entrevistá-la.
Dona de 15 passaportes
Dos 195 países que existem hoje, Glória Maria visitou 163. Tudo isso rendeu a apresentadora um total de 15 passaportes carimbados. A revelação aconteceu no “Lady Night”, programa apresentado por Tatá Werneck, em 2019.
Durante a entrevista, Glória disse: “cada um nasceu para uma coisa e eu nasci para estar no mundo”. Ela também disse que as viagens eram a sua verdadeira paixão, tanto da vida como do trabalho.
Representatividade racial
Mulher e negra, Glória Maria se tornou um referencial dentro e fora de sua profissão. Sua visibilidade e importância possibilitou que pessoas pretas alcançassem o que quisessem, assim como ela conseguiu. E tudo isso em uma época onde o racismo possuía muito menos visibilidade do que agora.
Um dos casos mais repercutiu aconteceu em 2017, quando Mirella Arcângelo, que à época tinha 11 anos, viralizou nas redes sociais. Residente de Ribeirão Preto (SP), a criança passou a gravar reportagens caseiras para denunciar as condições da rua em que morava.
Em uma reportagem especial para o Fantástico, Glória Maria foi visitar e conhecer Mirella de surpresa, o que acabou emocionando a pequena. Durante a entrevista, ela revelou também que a jornalista era sua grande inspiração.
Pioneira duas vezes na TV
Glória Maria virou repórter em uma época onde os jornalistas não apareciam. Ainda assim a apresentadora vivenciou duas novidades tecnológicas do jornalismo brasileiro. A primeira delas aconteceu em 1977, no Jornal Nacional, quando foi a responsável pela primeira transmissão de reportagem ao vivo e em cores.
Já em 2007, Glória Maria participou da primeira transmissão em HD da televisão aqui no Brasil. O momento aconteceu em dezembro quando a jornalista apresentou uma reportagem sobre a festa do pequi em uma aldeia indígena no Alto Xingu. Essa foi a primeira a ser captada e transmitida dentro dos padrões atuais.
Mesmo com a saudade, uma coisa é certa: Glória Maria vai ficar na memória. No jornalismo, na vida e principalmente na história!