Escolher ter filhos ou não é uma decisão que cabe a cada casal. Nem sempre é uma decisão fácil, pois envolve fatores econômicos, sociais e emocionais. Porém, há um movimento percebido entre as pessoas de 25 a 35 anos (que formam o grupo dos chamados Millenials): o de retardar ao máximo a gravidez ou de simplesmente não querer mesmo ampliar a família. Além dos fatores já citados, as incertezas em relação ao futuro, em um mundo que atravessa crises econômicas constantes e cuja natureza vem sendo destruída a cada dia, motivam a escolha.
Vale lembrar que mulheres e homens da Geração Y, a dos Millennials, também são tidos como um grupo que amadurece mais devagar — muitos, aliás, demoram a sair da casa dos pais e chegam a morar com eles muito após terem completado 30 anos. “Para essa turma, o trabalho é visto como algo pesado e cujo salário é voltado apenas para suprir necessidades pessoais. Ou seja, não estão dispostos a assumir responsabilidades maiores, como administrar uma casa e criar filhos”, diz Hilda Simões Lopes, socióloga.
No passado, ter filho era uma continuação do casamento, e aqueles que dispensavam o papel de mãe ou pai eram questionados, ou vistos com olhos de interrogação. Mas será que o momento atual dispensa essa cobrança indireta?
Cada caso é um caso, mas a opção vem sendo encarada cada vez mais com naturalidade. Segundo a psicóloga Gisela Castanho, a opção de gerar uma vida causa medo e insegurança. “Os filhos são uma responsabilidade para o resto da vida e cada vez mais as pessoas estão olhando para necessidades e investimentos pessoais”, comenta.
Trabalho X ter filhos
Outro fator que é discutido antes de pensar na maternidade ou na paternidade é o excesso de trabalho com o qual a maioria das pessoas precisa lidar hoje. “O tempo inteiro as pessoas são acionadas e sentem a necessidade de cumprir as tarefas. Então, as mulheres vão adiando o alarme do relógio biológico o máximo possível”, explica Liliana Seger, psicóloga clínica.
Não é à toa que vez ou outra ouvimos falar que o tempo está mais curto, não é mesmo? Hilda Simões esclarece que “as redes sociais trouxeram mudanças aceleradas, como a maneira de se relacionarem, viverem o seu espaço/tempo, e tudo isso torna o ser humano mais individualista”.
Ela diz ainda que a sociedade atual tem um nível de exigência de valores diferentes e prioriza o sucesso e a aparência/status. “A situação econômica se tornou uma necessidade primária na vida das pessoas e isso é uma coisa atual e muito forte, fato que tem a ver com o vazio existencial cada vez mais presente nos jovens contemporâneos”, afirma a socióloga.
Em tempos marcados pelo conforto da casa dos pais, a insegurança em pensar se haverá condições de dar aos filhos as mesmas oportunidades obtidas também colabora para a decisão de não gerar outras vidas.
“A incerteza sobre o futuro causa medo, pois não dá para prever como o mundo estará daqui a 10 anos. inclusive, fatores ambientais que englobam a falta de comida e água e o aquecimento global já estão sendo discutidos em diversos grupos e também impactam em quem faz parte da geração Y, pois eles serão os protagonistas daqui a 50 anos”, finaliza Gisela Castanho.
Fontes: Gisela Castanho, psicóloga e terapeuta de adolescentes; Hilda Simões Lopes, socióloga e bacharel em Direito; e Liliana Seger, psicóloga clínica pela Universidade de São Paulo (USP).