O Brasil tem um dos índices mais altos de consumo indiscriminado de analgésicos na América do Sul. Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), 0,5% da população adulta abusa de medicamentos vendidos sob prescrição médica. Além da dependência, esse uso abusivo pode trazer diversos prejuízos à saúde. E o alerta se aplica também àqueles adquiridos livremente em farmácias, como o paracetamol, um dos mais consumidos no país.
Cada vez mais fortes
Cefaleia Crônica Diária Associada ao Abuso de Analgésicos: esse nome extenso serve para definir a dor de cabeça causada pelo hábito de tomar um remedinho aqui, outro ali, sem antes consultar um médico. Com o tempo, o paciente já acostumado com a automedicação passa a não sentir o efeito do comprimido e dobra a dosagem.
“O uso excessivo de analgésicos modifica a resposta química em determinadas áreas do cérebro que fazem o controle da dor. Assim, à medida em que a pessoa vai usando os medicamentos, esse sistema neurológico passa a interpretar que o organismo, para funcionar bem, precisa de doses maiores e de outras categorias de analgésicos”, explica o neurologista Marcelo Mariano da Silva, do Centro Paranaense de Avaliação e Tratamento da Dor de Cabeça.
Instalam-se, então, dois problemas: a dependência de medicamentos e a dor crônica. “Quando a pessoa é levada ao vício, a dor de cabeça surge pela abstinência do analgésico”, revela o especialista. Pelo erro da automedicação frequente, o que era uma simples dor causada por um dia corrido pode acabar se tornando um problema grave.
Às vezes, desnecessário
Se o médico ainda não foi consultado, recorrer ao analgésico a qualquer sinal de dor é um erro. Muitas vezes, o problema pode ser desencadeado por um dia estressante ou mesmo pelo consumo de determinado alimento. Por isso, investigar a causa da dor é o primeiro passo para tratá-la de forma efetiva, já que mudar os hábitos pode ser o suficiente para evitá-la.
“Dores de cabeça esporádicas, desde que não se enquadrem nos sinais de alerta (quando associados a outros sintomas, por exemplo), podem ser tratadas com medidas não medicamentosas, com bons resultados. Compressa fria, técnicas de relaxamento e acupuntura são alguns exemplos”, diz Marcelo.
Automedicação, não!
Tão perigoso quanto o hábito de tomar remédios por conta própria é o de se consultar apenas com o farmacêutico. Em um estudo coordenado pelo neurologista Abouch Krymchantowski, constatou-se que, das 143 farmácias pesquisadas:
- em 80% dos estabelecimentos o farmacêutico, ou atendente, arriscou um diagnóstico a partir dos sintomas relatados pelos participantes da pesquisa, que descreviam sinais sugestivos da enxaqueca;
- em 78% dos casos foram sugeridos medicamentos sem prescrição médica.
Para o especialista, os farmacêuticos não estão preparados para diagnosticar o problema do cliente. Portanto, o recomendado é sempre procurar um médico antes de buscar qualquer saída.
Texto: Marisa Sei | Consultoria: Marcelo Mariano da Silva, neurologista especialista em dor, do Centro Paranaense de Avaliação e Tratamento da Dor de Cabeça
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