No último ano, a Comissão de Direitos Humanos no Brasil aprovou o projeto de lei (PL 4540/2023) que incentiva o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em adultos e idosos. Apesar de ainda aguardar apreciação no Senado Federal, a iniciativa reforça o crescente interesse pelo tema e a demanda por informação.
Identificar o TEA na vida adulta pode ser um desafio, mas permite uma compreensão mais profunda sobre si mesmo, auxilia na busca por estratégias para melhorar a qualidade de vida e garante o autoconhecimento, um dos principais benefícios do diagnóstico tardio.
“Quando você descobre o autismo, começa a entender seus limites, a respeitar seu ritmo e a fazer escolhas mais assertivas. Antes, tudo era tentativa e erro, e um monte de erro. O diagnóstico traz uma nova perspectiva e auxilia na aceitação”, compartilha Tio Faso, autista, bonequeiro, ilustrador e ativista, que recebeu seu diagnóstico após os 35 anos.
Entendendo os diferentes níveis do autismo
O TEA apresenta uma ampla variedade de manifestações, que variam em intensidade e nas áreas afetadas. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) categoriza o autismo em três níveis de necessidade de suporte:
- Nível 1: necessidade de pouco apoio;
- Nível 2: necessidade moderada de apoio;
- Nível 3: muita necessidade de apoio substancial.
O autismo leve em adultos, ou autismo nível 1, é caracterizado por desafios na comunicação social, comportamentos repetitivos e interesses restritos. Embora essas dificuldades existam, a necessidade de suporte no dia a dia é menor do que nos outros níveis.
Vale lembrar que as nomenclaturas de leve, moderado e severo são uma forma mais simplificada e acessível de descrever o diagnóstico para muitas famílias. O correto é sempre falar em níveis de necessidade e suporte.
“Pessoas nesse espectro costumam ter habilidades verbais e cognitivas próximas ao padrão neurotípico, mas enfrentam desafios sutis que impactam relacionamentos, trabalho e rotina”, explica Tamyres Furtado, terapeuta ocupacional da Genial Care.
Sinais de autismo leve em adultos
Adultos com autismo nível 1 tendem a preferir atividades solitárias e demonstram grande interesse por temas específicos, aprofundando-se intensamente neles. Também podem apresentar rigidez em suas rotinas, o que pode gerar ansiedade diante de mudanças inesperadas. Além disso, podem ter dificuldade em interpretar emoções alheias, embora consigam demonstrar empatia cognitiva (entendimento racional dos sentimentos dos outros).
“O autismo é um espectro, e cada pessoa apresenta características únicas. Nem todos os autistas nível 1 se comportam da mesma forma. Por isso, é essencial procurar um profissional especializado para avaliar os sinais e confirmar o diagnóstico”, aponta Tamyres.
Como realizar o diagnóstico
O diagnóstico do TEA é realizado por uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, psiquiatras e neurologistas. Assim, o processo envolve avaliação clínica, entrevistas e testes padronizados que analisam o histórico de desenvolvimento e os padrões comportamentais da pessoa.
“Muitos adultos são diagnosticados tardiamente, pois os seus sintomas não tiveram um impacto significativo na infância. No entanto, a intervenção precoce é fundamental, pois quanto antes começar, melhor o desenvolvimento, devido à neuroplasticidade do cérebro”, explica a terapeuta.
O autismo não é uma limitação, mas parte da identidade. Compreender e aceitar essa característica pode abrir caminho para uma vida mais alinhada com as necessidades individuais. O diagnóstico na vida adulta é apenas o começo de uma jornada de autoconhecimento e bem-estar.