O uso excessivo de telas na infância tem levantado questões sobre o impacto no desenvolvimento das crianças. Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em 2023, apontou que um terço das crianças de até 5 anos passam mais de duas horas utilizando telas por dia.
Segundo o neuropediatra na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Paulo Scatulin Gerritsen Plaggert, o uso excessivo de telas pode ter diversas consequências negativas no desenvolvimento infantil, afetando várias áreas da vida dos pequenos.
“O cérebro das crianças está em constante desenvolvimento, e a interação humana, o brincar e a exploração do mundo real são cruciais nesse processo. As telas, quando usadas em excesso, podem ocupar o espaço dessas atividades essenciais, prejudicando o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e cognitivas”, explica.
Impactos do uso excessivo de telas no desenvolvimento da criança
O neuropediatra destaca algumas áreas que podem ser afetadas pelo uso de telas em excesso. No desenvolvimento cognitivo, pode ocasionar: atraso na fala e linguagem, dificuldades de atenção, problemas de memória e aprendizado e redução da criatividade e imaginação.
“O excesso de telas diminui as oportunidades de interação, o que pode levar a atrasos na fala e dificuldades de comunicação. Com isso, o conteúdo rápido e estimulante também pode prejudicar a capacidade de concentração, afetando o aprendizado, o desempenho escolar e o processamento de informações. Mais um impacto é que o uso das telas limita as oportunidades de brincadeiras e exploração do mundo real, prejudicando o desenvolvimento da imaginação”, comenta o neuropediatra.
No desenvolvimento socioemocional, o uso excessivo de telas podem impactar no convívio social, comportamento e gerar sentimentos de ansiedade, depressão e baixa autoestima. Enquanto fisicamente pode causar problemas no sono e de visão, obesidade, questões no desenvolvimento motor.
“As telas em exagero levam ao isolamento social e à dificuldade de interação com outras crianças, assim como a comparação com a ‘vida perfeita’ retratada nas redes sociais, o que afeta a autoestima. Além disso, a exposição a conteúdos violentos ou inapropriados pode contribuir para o desenvolvimento de comportamentos agressivos e dificuldades de controle emocional”, reforça Plaggert.
Outro fator relevante é o aumento do risco de cyberbullying, especialmente em espaços como redes sociais. Essa prática pode acarretar consequências emocionais graves, destacando a necessidade de monitoramento e suporte contínuo às crianças e adolescentes no ambiente digital.
Moderação é a chave para reduzir os riscos
Embora o uso excessivo de telas ofereça riscos para o desenvolvimento das crianças, o especialista enfatiza que a tecnologia não é vilã. De acordo com ele, as telas podem ser ferramentas educativas e de entretenimento, desde que utilizadas com moderação e dentro de um contexto saudável.
Assim, seu uso precisa ser equilibrado e supervisionado. Ou seja, é importante que os pais estabeleçam limites para o tempo de tela, incentive atividades ao ar livre, o contato com a natureza e a interação social. Abaixo, o neuropediatra lista algumas dicas para um uso saudável das telas:
- Limite o tempo: estabeleça limites diários e horários específicos para o uso de dispositivos;
- Priorize outras atividades: estimule brincadeiras criativas, leitura, jogos em grupo e atividades físicas;
- Dê o exemplo: as crianças aprendem observando os adultos. Se você também passa muito tempo conectado, comece rever seus hábitos;
- Supervisione o conteúdo: fique atento aos conteúdos acessados pelas crianças e certifique-se de que sejam adequados à sua idade;
- Crie momentos “desconectados”: reserve tempo para atividades em família sem o uso de telas, como refeições, jogos de tabuleiro e conversas.
“O desenvolvimento infantil é um processo complexo e multifacetado. O uso excessivo de telas é apenas um dos fatores que podem influenciar esse processo. Estar atento aos sinais, buscar informação e oferecer um ambiente rico em estímulos e interações positivas são a chave para garantir um desenvolvimento saudável para as crianças”, finaliza o especialista.
