É inegável a necessidade de superar o machismo, presente nos mais distintos aspectos da sociedade atual. Mas há ambientes que são ainda piores nesse quesito, como é o caso do mundo dos negócios. A empresária Gabriella Vivere, que trabalha com vendas de commodities entre diversos países, conhece bem essa realidade. “O mundo dos negócios é extremamente machista, isso ocorre em todos os países que visito, a diferença é que há lugares onde o problema é mais explícito”, afirma.
Gabriella é brasileira, mora em Portugal e viaja a inúmeros países para fechar negócios. Assim, a partir de sua própria experiência, a empreendedora enumerou algumas dicas e observações sobre como driblou (e ainda dribla) o problema ao longo de sua carreira.
Sexo frágil
Ainda há a visão de que mulheres são sensíveis e emotivas, e que, por isso, não têm firmeza para gerir um negócio. Gabriella sempre fez questão de mostrar seriedade por meio de argumentos sólidos, baseados em dados concretos, para mostrar que tem certeza de suas decisões.
“Várias vezes eu sou desrespeitada negociando commodities porque é um mercado extremamente masculino, quando me imponho de maneira firme eu escuto bastante que isso é ‘woman drama’, ou seja, um drama de mulher”. A dica é não ter medo de responder e se impor, mas sempre com educação para não perder o cliente. “Não tenha medo de responder e enfrentar, é comum homens desrespeitarem você com comentários pejorativos ou simplesmente ignorarem seu ponto de vista, mas enfrente e se posicione”.
Assédio
O assédio, em especial o sexual, é frequente. Se a mulher for jovem, sofre em dobro. Gabriella aprendeu na prática a se impor. “Seja educada, mas não passiva. Se o comentário for desrespeitoso responda de maneira firme que não tem interesse e que deseja ser respeitada, eu sempre deixo claro que a minha vida pessoal não se mistura à profissional”.
Ainda há muitos homens que não entenderam que as mulheres não estão à disposição e que têm tanto interesse em trabalhar quanto eles. "Não devemos nos calar jamais, é nossa forma de mostrarmos força”, diz ela.
Mulheres engravidam
Um dos maiores erros dos gestores de empresas é a visão de que mulheres são um prejuízo porque engravidam. É como se toda a construção profissional fosse por água abaixo por conta de seis meses que ela precisará tirar de licença-maternidade. Gabriella afirma que todos na empresa devem barrar qualquer tentativa de impor este pensamento. “Trabalhei em uma empresa de tecnologia e, certa vez, o dono da empresa pediu que eu contratasse um homem e não uma mulher, pois mulher pode engravidar e ele teria que pagar isso, eu respondi: ‘você saiu da barriga de quem, do seu pai?’. É claro que não segui esta ordem, contratei quem eu considerei qualificado para o cargo”.
Acredite em você
Durante séculos as mulheres foram desacreditadas, e ainda existe a visão de que são menos racionais. Isso não tem qualquer embasamento científico. Portanto, mãos à obra. “Quando fracassamos é comum haver julgamentos de que nosso erro tem a ver com o fato de sermos mulheres, já quando eles fracassam não há esses comentários”, afirma. Homens e mulheres prosperam e fracassam, a diferença entre a perda e o ganho não está no gênero, mas na capacidade e no empenho de cada um.
“Sou mais bem sucedida que muitos homens porque sou organizada e metódica, ser mulher não influencia em nada na na capacidade intelectual”. A brasileira defende que as mulheres criem uma rede de apoio, não de competição entre si. “Nós fomos criadas em uma sociedade machista com uma mentalidade de competição, enquanto vemos que os homens se unem. Temos que nos unir também, nos solidarizarmos umas com as outras no mercado e abraçarmos as causas que combatam o machismo”, ela complementa.