Você conhece a Síndrome de Rokitansky? É uma doença congênita de origem desconhecida, que afeta o sistema reprodutivo feminino ainda durante a formação do feto embrionário. Ela é caracterizada pela ausência ou má formação dos órgãos genitais, principalmente o útero e o canal vaginal.
Segundo a ginecologista, Claudia Takano, as portadoras da síndrome têm a genitália externa normal. A parte que enxergamos, chamada vulva — que inclui o clitóris, a uretra, os pequenos e grandes lábios, hímen e ânus —, é desenvolvida, assim como os ovários e as trompas de Falópio. A formação alterada ocorre apenas no útero e no canal vaginal.
“Na maioria das vezes, o útero está ausente ou é minúsculo e o canal vaginal (caminho entre o útero e a vulva) é mais curto e mais estreito do que o habitual ou pode estar ausente”, esclarece. Além disso, a síndrome é classificada em dois tipos:
- Tipo I, com acometimento isolado dos órgãos reprodutores, com incidência em uma a cada 5 mil mulheres;
- Tipo II, com associações de alterações sistêmicas, em outros órgãos, com incidência em uma a cada 10 mil a 15 mil mulheres, sendo casos ainda mais raros.
Como diagnosticar a síndrome?
Por ser uma doença que não causa alterações externas na paciente, é comum que o diagnóstico seja tardio, geralmente entre os 13 e 18 anos, por meio do exame físico ginecológico e/ou exames de imagem, como o ultrassom pélvico.
A estudante de medicina, Isabella Barros, de 21 anos, lembra o baque que sofreu após descobrir que havia nascido sem o canal vaginal. “Quando recebi meu diagnóstico, aos 13 anos, senti uma dor como nunca tinha sentido igual, como se aquela notícia tivesse arrancado uma parte de mim”, confidencia.
“Meu inconsciente acreditava que meu caminho de vida ia ser como o padrão: perder a virgindade, conhecer alguém especial, casar e ter filhos. Ninguém sabia me dizer como lidar com isso, e pior ainda, ninguém sabia me dizer o que era”, recorda.
De acordo com Takano, a ausência da menstruação e o registro de dores ou dificuldade na relação sexual estão entre os principais sintomas. “A identificação mais frequente ocorre na busca de atendimento médico porque a jovem não menstrua ou por ela ter dor e dificuldade na relação sexual. Algumas podem descobrir mais cedo ou mais tarde por outros motivos, tais como acidentes, perda urinária ou dores no baixo abdômen”, explica.
A Síndrome de Rokitansky tem tratamento
Apesar de a condição ser rara, a Síndrome de Rokitansky tem tratamento, que pode variar conforme as características de cada paciente. A técnica de dilatação, por exemplo, é a mais indicada pelos médicos atualmente. Ela permite ampliar o canal vaginal rudimentar, até que atinja um tamanho que permita a penetração.
Outra forma de tratamento é a cirurgia, recomendada quando os dilatadores não obtêm o resultado esperado ou a mulher possui uma malformação que dificulta a dilatação do canal vaginal. No entanto, como qualquer procedimento, ela apresenta riscos, e, por isso, deve ser considerada apenas em último caso.