A morte precoce de Marília Mendonça não representa apenas a perda de uma das principais cantoras e compositoras da atualidade, mas também de uma voz ativa contra o machismo, principalmente no universo sertanejo. Com sua carreira consolidada em um gênero musical majoritariamente masculino, a artista de 26 anos fez diferente ao colocar mulheres como protagonistas na música brasileira.
Para além de letras sobre sofrência, a cantora quebrou barreiras ao abordar assuntos como autoestima feminina, desilusões amorosas e superação de relacionamentos abusivos em suas canções. Todas as suas músicas eram baseadas em histórias de sua vida e, com todo seu desabafo pessoal, acabaram gerando tanta repercussão que a identificação do público foi imediata.
"Feminejo"
A Rainha da Sofrência trouxe a tona o termo "Feminejo" para esse cenário ainda tão masculino. Mesmo Marília sendo uma das principais representantes do termo atualmente, ela sucedeu vozes femininas que ocuparam o sertanejo no início da década de 80, como Roberta Miranda e Irmãs Galvão.
feminejo — New New York Times (@NYT_first_said) November 6, 2021
O termo se popularizou tanto que foi usado até pelo jornal norte-americano The York Times.
Temas delicados em suas canções
Sempre comentando sobre relacionamentos abusivos e amor-próprio em suas músicas, Marília não pensava duas vezes antes de utilizar o seu talento para abordar temas delicados. O último projeto da vez foi feito com Maiara e Maraisa, no mês de julho. As amigas divulgaram uma canção que conta a história de uma mulher vítima de violência doméstica.
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Marilia Mendonça (@mariliamendoncacantora)
Na legenda de uma publicação no Instagram, ela fala o processo de selecionar a canção "Você não manda em mim", de As Patroas. "Estávamos preparando um trabalho especial pra essa música de conscientização sobre a importância da denúncia contra a agressão a mulher, justamente por saber que somos referências pra muitas mulheres no Brasil, que passam todos os dias por situações parecidas e por muitas vezes se sentem desencorajadas a denunciar", explica na legenda.
Antes de cantar a música, Marília alerta: “Em 2020 a central de atendimento registrou um caso de agressão à mulher a cada 5 minutos".
Além disso, em uma postagem no perfil do Instagram das Patroas, intitulada “Os 9 mandamentos das patroas”, Marília e dupla falam sobre os direitos das mulheres, abordando assuntos como vestir o que quiser, autoestima e terem voz.
Artistas que seguem a mesma linha
A temática que aborda os direitos das mulheres, claro, vai muito além de Marília e a dupla Maiara e Maraisa. Falar sobre esse assunto sempre esteve presente no Feminejo. A dupla Simone e Simaria, por exemplo, denunciou a violência doméstica ao lançar a música "Ele bate nela", há 7 anos atrás.
Não é à toa que Marília Mendonça recebeu homenagens de cantoras de outros gêneros musicais a respeito da relevância de seu trabalho e legado. Adriana Calcanhoto, Gal Costa, Elza Soares, Anitta, Gabi Amarantos e Luísa Sonza, entre outras, também abordam a temática feminina em seus projetos e elogiaram em entrevistas os caminhos abertos pela Rainha da Sofrência que ainda podem ser trilhados por tantas outras artistas.