Um estudo realizado por diversas universidades holandesas comprovou o evidente ciclo gorduroso existente entre a obesidade e a depressão. O trabalho, que analisou 58.745 pessoas, constatou que o excesso de peso aumenta o risco de uma tristeza profunda e patogênica em homens e mulheres. Também foi possível observar que o desequilíbrio emocional pode ser o primeiro passo para o ganho de peso exagerado. Mas por que isso acontece?
Por fuga
“A alimentação é vista como afeto pela cultura humana. Nosso primeiro contato com o afeto é por meio da amamentação. Cozinhar para os outros é um sinal de carinho. Quase todo encontro humano acontece ao redor de uma mesa. Nesse sentido, comer pode substituir uma falta de afeto, ser uma tentativa de aplacar a solidão e a baixa autoestima. A comida preenche simbolicamente o vazio emocional”, analisa a psicóloga Cecília Zylberstajn. Assim, pode se comer por nervosismo, ansiedade e tristeza, especialmente quando não se quer entrar em contato com os próprios sentimentos. A comida ainda promove satisfação e sensação de bem-estar – embora momentâneas. E todo mundo sabe que boca nervosa, geralmente, resulta em sobrecarga na balança.
Por problemas associados
A comunidade médica suspeita que o consumo de certos antidepressivos poderia levar ao excesso de peso ou à obesidade, já que alguns aumentam o apetite ou alteram o metabolismo. Dois sintomas da depressão também são um passo e tanto no sentido da obesidade: prostração e insônia. A falta de ânimo faz com que o indivíduo se exercite menos, ou até deixe de fazê-lo. Com isso, a queima de calorias é insuficiente para equilibrar o acúmulo de gordura no corpo. Já dormir pouco e/ou mal diminui a produção de leptina, hormônio que regula a queima de gordura, e aumenta a de grelina, que estimula o apetite. Ou seja, além de cansada e deprimida, a pessoa pode ficar mais pesada do que se espera em termos de saúde e conforto.
Por disfunções e fatores culturais
De acordo com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), a influência da obesidade no surgimento do quadro depressivo poderia ocorrer pela causa da resistência à insulina ou mesmo por processos inflamatórios, que afetariam o combate aos hormônios estressores e prejudicaria outros responsáveis por sensações de prazer e bem-estar. “A obesidade é um fator de piora de qualidade de vida por um grande número de fatores físicos e psíquicos. Não se pode esquecer da pressão exercida pelos padrões de beleza atuais, que não valorizam o sobrepeso”, lembra o psiquiatra Adriano Segal, presidente da Comissão de Especialidades Associadas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (COESAS – SBCBM). Diante do estigma social disseminado contra a obesidade, pessoas obesas podem apresentar autoestima diminuída, retraimento social e outros eventos negativos gerados pela situação de estresse.
Alimentação X Emoções
Segal também fala sobre outros distúrbios alimentares de influência emocional:
Anorexia nervosa: quadro em que há relevante perda involuntária. O indivíduo deixa de comer, ou come o mínimo possível, por medo de engordar, configurando doença grave que pode levar ao óbito.
Bulimia nervosa: episódios repetidos de compulsão alimentar intercalados com comportamentos inadequados voltados para a perda de peso, tais como vômitos autoinduzidos, abuso de laxantes e diuréticos, jejuns prolongados e exercícios físicos em excesso.
Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica: episódios repetidos de compulsão alimentar sem os comportamentos inadequados voltados para a perda de peso.
Síndrome Alimentar Noturna: ingestão de mais da metade das calorias ingeridas no dia após o anoitecer, princípio de insônia e, para alguns, falta de fome no período da manhã.
Consultorias: Cecília Zylberstajn, psicóloga; Adriano Segal, psiquiatra e presidente da Comissão de Especialidades Associadas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (COESAS – SBCBM) Fonte: Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso)
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