Imagine uma casa com dois quartos, uma cozinha, um banheiro e uma sala. Aos poucos, normalmente, tais ambientes vão sendo ocupados por objetos, roupas e papéis de pouca utilidade. Porém, a cada dia, o morador passa a guardar mais e mais coisas. A locomoção entre os cômodos fica difícil, e a rotina da casa se modifica. Como a cozinha está ocupada, a pessoa deixa de cozinhar. O mesmo acontece com o banheiro: é possível cuidar da higiene se há um monte de caixas abaixo do chuveiro? Trata-se um nítido quadro de acumulação.
Por dentro da acumulação
Armazenar uma grande quantidade de objetos desnecessários pode estar associado a vários quadros psiquiátricos e médicos. Segundo o psiquiatra Marcelo Queiroz Hoexter, a manifestação deste comportamento pode estar ligada ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) propriamente dito, à classificação diagnóstica de colecionamento ou a outros quadros psiquiátricos e neurológicos como os depressivos, psicóticos ou até demenciais.
Para o psicólogo João Alexandre Borba, o primeiro traço da acumulação é quando a pessoa começa a juntar coisas que não possuem tanta relevância para quem está observando a situação do lado de fora. “A pessoa pode guardar um ingresso de um show que foi, tudo bem. Depois, começa a juntar coisas que, após uma análise, não têm tanto sentido”, explica. Mas o que provoca esse comportamento?
Análise neural
No cérebro desses indivíduos, alguns circuitos funcionam de uma forma fora do usual. “É como se diferentes regiões do órgão se comunicassem de uma outra maneira”, elucida Hoexter.
Já se sabe que o distúrbio da acumulação está vinculado a alterações dos mecanismos cerebrais de tomada de decisão. “Essas ferramentas complexas têm como base neural um grande conjunto de estruturas cerebrais, como regiões especializadas dos lobos frontais, incluindo as regiões orbito-mediais e dorso-laterais, além de outras estruturas, em particular o giro cíngulo”, pontua o psiquiatra Rodrigo Pessanha.
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Texto: Érica Aguiar – Edição: Victor Santos
Consultorias: João Alexandre Borba, psicólogo; Marcelo Queiroz Hoexter, psiquiatra no Programa de Transtorno Obsessivo Compulsivo do Instituto de Psiquiatria (Ipq) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP); Rodrigo Pessanha, psiquiatra.
Fonte: 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).