A ideia de que “toda mulher nasceu para ser mãe”, além de desrespeitar o direito de escolha individual de cada pessoa, também pode provocar e potencializar quadros de tocofobia. O termo é utilizado para descrever o medo que algumas mulheres têm da gravidez e do parto.
Considerada um transtorno psicológico pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), a condição costuma ser desencadeada por experiências traumáticas vivenciadas pela própria pessoa ou por alguém próximo.
“Ela [tocofobia] significa o medo que uma pessoa tem de engravidar, de ter filhos, ou o medo do próprio processo do parto e da gestação, tudo que envolve esse hall de experiências: engravidar, gestar e parir uma criança”, explica Ronaldo Coelho, psicólogo e professor de psicanálise e análise do discurso.
A tocofobia pode surgir em diferentes etapas da vida da mulher. Por isso, ela é dividida em primária, quando é a sua primeira gestação, ou secundária, quando ela já teve essa experiência anterior, geralmente negativa, em relação ao parto. Assim, é comum que mulheres que sofreram violência obstétrica, por exemplo, desenvolvam o medo de uma nova gravidez.
Falta de acolhimento
A Nordic Federation of Obstetrics and Gynecology (Federação Nórdica de Obstetrícia e Ginecologia) estima que a tocofobia afete 14% das mulheres no mundo. O especialista destaca que não se trata de um simples medo e que é importante não banalizar o termo. Isso porque, muitas vezes, está relacionado a traumas, abusos e a um histórico de violência obstétrica familiar.
“Na maioria das vezes, não tem nada de ilógico, nada de irracional”, diz o docente, que afirma que o sistema de saúde ainda não está preparado para atender esse tipo de fobia. Para ele, é preciso acolher esses casos e identificar as causas dos medos. Também é necessário criar medidas de combate a violência obstétrica para garantir que o processo do parto não seja a causa da criação de traumas que levem à tocofobia.
Sintomas da tocofobia
Vale lembrar que é normal sentir medo, preocupação e ansiedade com a saúde do bebê e o sucesso do parto. O problema, no entanto, é quando os sintomas começam a prejudicar o bem-estar da mulher e suas relações interpessoais. Os sinais mais comuns são:
- Medo de engravidar
- Crises de pânico e ansiedade;
- Oscilação de humor;
- Depressão;
- Náuseas e vômitos,
- Pesadelos com gravidez.
Qual é o tratamento?
Outro ponto importante é que além das mulheres que não querem ser mães, as que desejam ter filhos também podem desenvolver a tocofobia. Assim, para superar o medo e conseguir engravidar ou levar a gestação até o fim, recomenda-se procurar ajuda para compreender o que está por trás desse sintoma. Geralmente, o tratamento é feito com psicoterapia, a fim de entender o gatilho para o medo e tratá-lo. Alguns casos também exigem acompanhamento psiquiátrico.