Historicamente, casar-se e constituir família seriam os objetivos principais das mulheres, muitas vezes, incentivadas por pressões familiares e sociais. Conforme uma pesquisa conduzida pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, 68% das pessoas ainda associam o estado civil de uma mulher à sua realização pessoal.
Esse conceito, perpetuado por gerações, ainda influencia o modo como as pessoas enxergam as mulheres que optam por uma vida solteira. Nos últimos anos, entretanto, as mulheres vêm desafiando as normas e redefinindo o que significa ser feliz, priorizando outros aspectos de suas vidas, como educação, carreira e bem-estar emocional.
Para entender esse cenário, a pedagoga Claudia Petry e a psicóloga Monica Machado apontam as motivações que têm levado as mulheres a manterem-se solteiras, libertando-as de imposições sociais que não cabem mais a elas. Veja abaixo:
Mudanças nas convenções familiares
Embora ainda haja pressão para seguir os padrões sociais, uma pesquisa realizada pelo aplicativo de encontros Bumble mostrou que uma em cada três mulheres (37%) não tem interesse em cumprir esses marcos convencionais, e que 69% delas buscam uma relação duradoura, enquanto apenas 10% almejam o casamento.
“À medida que as mulheres optam por construir seu próprio caminho, há um declínio dessa visão que não só limita as suas qualificações, como também influencia a forma como muitas mulheres enxergam suas próprias vidas e escolhas”, explica Claudia.
Independência financeira
Um estudo conduzido pela Avon, em parceria com o Instituto Locomotiva, mostrou que 62% das mulheres solteiras afirmam que a decisão de não estar em um relacionamento sério está diretamente ligada ao desejo de manter sua independência.
Além disso, 54% mencionaram a busca por estabilidade financeira e emocional como razões para permanecerem solteiras. “O empoderamento feminino tem levado muitas mulheres a questionar e desafiar os papéis tradicionais de gênero, que associavam o sucesso feminino ao casamento e à maternidade”, reforça Monica.
Foco na carreira
Ainda segundo a pesquisa da Avon, 72% das mulheres solteiras declararam estar satisfeitas com sua condição, afirmando que o status lhes permite maior liberdade para focar em objetivos pessoais e profissionais.
De acordo com Claudia, o desafio de conciliar vida pessoal e carreira leva algumas a priorizarem o crescimento profissional antes de se comprometer com um relacionamento sério ou a formação de uma família.
“Esse movimento é reforçado pelo maior controle sobre a saúde reprodutiva, permitindo que as mulheres planejem melhor suas vidas e decidam quando, e se, querem casar ou ter filhos”, diz a pedagoga.
Autocuidado físico e mental
Na pesquisa do Bumble, a valorização do autocuidado e da saúde mental fez com que as mulheres adotassem o “slow dating”, priorizando a qualidade em detrimento da quantidade nos encontros. Segundo a pesquisa, quase um terço (30%) das mulheres está ativamente buscando indivíduos que apreciem tanto o tempo quanto o autocuidado.
“Isso inclui fugir de relações tóxicas ou abusivas. Não à toa, 48% das mulheres preferem estar sozinhas a se submeterem a relacionamentos opressores, segundo estudo da Fundação Perseu Abramo”, conta a psicóloga Monica Machado.
A pesquisa do Bumble reforça esse cenário: 34% das mulheres afirmam que só pretendem namorar alguém que não tentem mudá-las; e 77% consideram essencial que seus parceiros compreendam tanto a intimidade emocional quanto a física.
“O cenário atual reflete uma mudança cultural significativa, onde as mulheres passaram a reivindicar maior autonomia sobre suas vidas, mostrando que ser solteira não é uma condição de fracasso a ser superada, mas uma escolha deliberada com o propósito de buscar novas narrativas para suas vidas”, finaliza Claudia Petry.