Ingrid Santa Rita, participante do programa “Casamento às Cegas”, revelou ter sido estuprada por diversas vezes pelo ex-marido Leandro Marçal. Eles se casaram na quarta temporada do reality show da Netflix. Em seu perfil no Instagram, ela relatou detalhes do abuso que sofreu durante o período em que esteve casada com ele.
A notícia movimentou as redes sociais e trouxe à tona um tema que, infelizmente, é muito recorrente na sociedade, apesar de ser pouco denunciado, até mesmo pela dificuldade das vítimas em enxergarem que foram abusadas sexualmente pelo próprio companheiro.
Segundo a psicanalista Andrea Ladislau, o estupro no casamento, geralmente, ocorre seguido por ameaças, violência psicológica, violência patrimonial, para conseguir manter relações com a vítima. Relações sexuais não consensuais e, em muitos casos, associada à violência física.
“Fato é que, amar alguém não requer incontável ‘perdoe-esqueça’, pois os danos emocionais causados, podem ser muito maiores que os danos físicos. Além disso, a base da relação está no respeito e no limite. Chocam os relatos que mostram que a mulher, apesar de dizer ‘não’, continua sendo desrespeitada, e sob protestos ou ameaças, cede contra sua vontade”, explica.
Porém, Andrea lembra que muitas não conseguem enxergar a situação como sendo uma violência sexual. Tanto que, a ficha só caí quando resolvem tomar coragem de denunciar ou buscam um profissional de saúde para fazer terapia, dizendo-se abusadas, mas através de acolhimento e orientação, percebem que na realidade, sofreram um estupro.
“Ou seja, fica evidente a necessidade de abertura de mais instrumentos públicos ou privados que acolham e massifiquem as características dos tipos de violências. Abrindo também um canal de abordagem para que se sintam à vontade para expor suas dores”, alerta.
Reféns do medo
Para a psicanalista, se perceber vítima de um abuso sexual praticado pelo próprio parceiro, seja marido, namorado ou ficante fixo é, no mínimo, triste e constrangedor. Isso leva grande parte das mulheres a esconderem a violência por vergonha ou medo, elevando o índice de subnotificação destes casos no país.
“O que dificulta as denúncias é o vínculo que a vítima possui com o agressor. Esse elo faz com que ela se cegue e não perceba que está em uma situação de violência sexual ou psicológica. [As vítimas] se sentem culpadas muitas vezes e não entendem que, a partir do momento que, não se deseja o ato, verbalizou o ‘NÃO’, a violência se instaurou, pois ninguém é obrigado a nada”, explica.
Estatísticas mostram a crescente dos relatos de estupros, de todas as naturezas. Seja dentro das casas das vítimas, ou mesmo nas ruas, em eventos, ou em locais de trabalho, o que demonstra, segundo Andrea, a importância de políticas de proteção mais robustas, a padronização de regimes éticos e de seguranças internas eficazes dentro de todos os ambientes, no sentido de evitar os traços de crueldade, manipulação e perversidade que, certamente, provocam, nas vítimas, mudanças severas em sua percepção de valores e na forma como possam lidar com suas dores.
“O episódio do reality “Casamento às Cegas” demonstrou uma realidade que pode acontecer na intimidade de um casal. Dentro deste contexto, se faz urgente o fortalecimento dos cuidado, a orientação, o acolhimento e escuta ativa para as vítimas deste crime, muitas vezes silencioso, que anula o sorriso e rouba a vivacidade, ferindo e provocando sensação de culpa, inferioridade, fobias, além de dores físicas e na alma”, finaliza Andrea.