“Vou te ajudar a conquistar tal pessoa”… essa é uma frase que talvez você já tenha dito ou mesmo ouvido de alguém. A atitude pode até parecer uma forma de apoio ou suporte amigável, mas abre margens para um comportamento extremamente tóxico. Isso se dá porque o amor passa a ser uma “conquista” e não mais um sentimento a ser sentido, vivido e experienciado, explica a advogada especialista em gênero Mayra Cardozo.
“Trata-se de um comportamento que reforça estereótipos de gênero nocivos, ainda mais quando pensamos nas mulheres. Sem perceber, elas passam a adotar padrões e aparências específicas para se encaixarem em padrões idealizados de feminilidade e atração, muitas vezes à custa de sua autenticidade e bem-estar. Elas param de ser elas mesmas, perdendo a capacidade de autoexpressão e autoaceitação, tudo para se moldarem às expectativas alheias”, aponta a sócia do escritório Martins Cardozo Advogados Associados.
De acordo com a profissional, jogos e estratégias de conquista ignoram a essência das relações humanas autênticas. “Mais que isso, essa abordagem desumaniza a pessoa desejada, transformando-a em um objetivo a ser alcançado, e também subestima a importância da reciprocidade e do consentimento nos relacionamentos. Perpetua-se, portanto, a ideia de que o amor e a atenção devem ser ‘ganhos’”, reforça Mayra.
Como construir um relacionamento saudável?
A crença incentiva uma cultura na qual o “não” é visto como um convite à insistência, em vez de ser respeitado como uma resposta final, levando ao desrespeito pela autonomia e liberdade de escolha das mulheres. Assim, para desmistificar essa narrativa estereotipada, a advogada separou quatro dicas que nos ajudam a construir um relacionamento saudável baseado na igualdade, no respeito mútuo e na comunicação honesta. Veja abaixo:
- O verdadeiro amor não se trata de conquistar ou ser conquistada;
- Relacionamento saudável floresce na presença de consentimento explícito, interesse compartilhado e na celebração das individualidades de cada um;
- Promover diálogos sobre a importância de construir conexões genuínas, nos quais ambas as partes se sintam valorizadas e respeitadas;
- Desafiar a narrativa tóxica da conquista reflete em relações fundadas na autenticidade, na liberdade de sermos nós mesmas e no respeito mútuo.
“É tempo de redefinir o amor, afastando-nos de jogos de poder e nos aproximando de um entendimento mais profundo e respeitoso do que significa amar e ser amado”, finaliza a especialista.