Febres que não cessam, dores sem motivo aparente, vômitos constantes, saúde debilitada… Esses parecem serem sintomas de alguém muito doente, certo? No entanto, eles se manifestam somente quando a pessoa é deixada longe da observação médica. Não é por acaso, já que tais sintomas são provocados pelo próprio paciente. Isso mesmo!
Apesar de ir contra a maioria da população, que não gosta de ficar doente, portadores da síndrome de Münchausen são capazes de incitar problemas de saúde em busca de atenção e cuidados alheios. Parece “coisa de louco”, mas é um distúrbio mental grave e sério.
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Descrita pela primeira vez em 1951 pelo médico inglês Richard Asher, a síndrome de Münchausen (SM) é um transtorno factício, isto é, gerado artificialmente, em que o paciente seja capaz de se mostrar dramaticamente doente, podendo até inflingir lesões dolorosas, com risco de morte. “Trata-se de uma desordem psiquiátrica em que o paciente, de forma compulsiva, deliberada e contínua, causa, provoca ou simula sintomas de doenças físicas e psicológicas para conquistarem atenção, empatia, amor, entre outras formas de afeto”, explica a psicanalista Fabiana Benetti.
Diferentemente de uma simulação de um problema de saúde com o intuito de evitar alguma obrigação (conseguir um atestado para faltar ao trabalho…) ou ter ganho financeiro (como receber uma pensão), quem sofre com a síndrome não quer nada além de atenção do maior número possível de pessoas.
“Eles simulam estar com febre deixando o termômetro perto de uma lâmpada e se automutilam para parecerem ter hemorragias, por exemplo. Os pacientes podem se submeter a procedimentos cirúrgicos e tomar medicações desnecessárias, gerando custos ao sistema de saúde e trazendo prejuízo funcional para si e para seus familiares”, afirma o psiquiatra Fabio Gomes de Matos e Souza.
O comportamento dessas pessoas não apresenta anormalidades somente com a própria saúde, como explica Fabiana: “os relacionamentos interpessoais desse paciente podem se apresentar excessivamente intensos, mas instáveis, que oscilam entre idealização e depreciação. Também exibe constante instabilidade afetiva com acessos de raiva e retaliações psicológicas e dificilmente tolera estar sozinho”. Tamanha dedicação para alterar a realidade faz com que a síndrome passe a ser a atividade principal da vida do indivíduo.
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Consultorias: Fabio Gomes de Matos e Souza, psiquiatra no Hospital Universitário Walter Cantídio, em Fortaleza (CE); Fabiana Benetti, psicanalista e especialista em psicossomática.
Texto e entrevistas: Natália Negretti – Edição: Augusto Biason/Colaborador