Hoje, 31 de maio, é celebrado o Dia Mundial sem Tabaco. A data foi criada em 1987 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na intenção de jogar luz às problemáticas do tabagismo, como doenças decorrentes dessa prática e as mortes evitáveis.
De acordo com a OMS, enfermidades relacionadas ao fumo matam mais de 5 milhões de pessoas no mundo anualmente, sendo que cerca de 200 mil mortes são de brasileiros, mesmo com campanhas de conscientização recorrentes, ofertas gratuitas de tratamento e os ricos da prática venham ilustrados nas embalagens de cigarro.
Quando relacionamos cigarro e saúde, muito se discute sobre os riscos para o pulmão, devido à inalação da fumaça. O pneumologista Nelson Morrone Junior explica que o hábito é responsável por quase 30% dos cânceres, incluindo neoplasias de pulmão, além de ser um fator para enfisema e embolia pulmonares, capaz ainda de precipitar crises de asma e pneumonia.
"Não existe um tempo mínimo para o desenvolvimento de doenças causadas pelo fumo, pois estas podem estar relacionadas com o número de cigarros fumados, o tipo (se com filtro ou não), se o indivíduo traga ou não, o ambiente onde ele fuma e se é homem ou mulher, por exemplo" pontua o especialista.
No entanto, apesar de ser essencial olhar para esse órgão, é fundamental entender que fumar não prejudicará apenas o sistema respiratório, mas o organismo de uma forma geral. Pelo menos outras 4 partes do corpo deverão ser comprometidas pelo uso. Entenda mais!
Bexiga
"Posicionado em quarto lugar nos homens e o oitavo lugar na mulher, o câncer de bexiga é o segundo tipo de câncer mais constante do trato do urinário, tendo maior incidência após os 60 anos", explica o urologista e cirurgião robótico Fernando Leão.
Conforme estatísticas do Instituto do Câncer (INCA) para 2020, o câncer de bexiga acometeu 10.640 pessoa no último ano, sendo 7590 homens e 3050 mulheres, resultando em 4517 mortes.
Considerando esses números, o médico reforça a importância de buscar ajuda média mesmo nos menores sinais, mas isso não tem acontecido durante a pandemia: "Temos visto muitos pacientes chegando às consultas com quadros mais evoluídos e graves decorrentes da demora da procura ao Urologista ou por interrupção do tratamento antes do término previsto", conta.
Os principais sintomas da doença são urina com sangue, dor lombar ou no abdômen inferior, inchaço nas pernas e irritação na bexiga. Já o diagnóstico é feito por exames de imagem, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética, e cistoscopia com biópsia da lesão vesical.
Segundo Fernando, o tratamento dependerá do estágio da patologia, podendo ser realizados imunoterapia vesical, quimioterapia, radioterapia ou até mesmo cirurgia. "A operação pode ser por via endoscópica para a extração do tumor pela uretra, ou a retirada de parcial à total da bexiga. Essas duas últimas podem ser executadas de maneira aberta, laparoscópica ou robótica", esclarece o especialista.
Coração
O cigarro é um inimigo declarado do coração. As cardiopatias mais desenvolvidas em decorrência do vício são as doenças vasculares: "isso ocorre porque acelera o processo aterosclerótico, lesando as paredes das artérias do coração e produzindo isquemia e infarto do miocárdio", aponta o cardiologista e PHD Dante Senra.
O tabaco é capaz de aumentar as chances de eventos como infartos e derrames, devido às substâncias contidas nele, responsáveis por agredir as paredes internas dos vasos sanguíneos (chamado endotélio) e favorecer o acúmulo das placas de colesterol.
Além disso, segundo Dante, essa lesão no endotélio interfere na produção do óxido nítrico, um vasodilatador protetor, que aumenta o espaço para o fluxo do sangue. O paciente apresentará ainda aumento na frequência cardíaca, consumindo mais oxigênio.
Garganta
"Embora o fumo gere inúmeras consequências maléficas ao organismo, existem partes específicas, nas quais os prejuízos serão catastróficos: a boca e a garganta. Afinal, é através delas que acontece o primeiro contato do tabaco e suas substâncias com o corpo humano", alerta o otorrinolaringologista Jamal Azzam.
De acordo com ele, alguns dos problemas que poderão surgir são: irritação na garganta, tosse, rouquidão, ardor na boca e garganta, pigarro, excesso de secreções respiratórias
e até mesmo cânceres de lábio, língua, amígdalas ou laringe (incluindo as cordas vocais).
Pele
Tanto a aparência, como a saúde deverão ser afetadas pelo cigarro. "No contexto da saúde da pele, parar de fumar é fundamental para desacelerar o envelhecimento, minimizar complicações cirúrgicas e dermatológicas relacionadas ao tabagismo e melhorar as condições que impacta, diretamente no tecido cutâneo", assegura a dermatologista Paola Pomerantezeff.
A associação entre tabagismo e rugas foi estabelecida há alguns anos, proveniente de pesquisas. "As características clínicas de um ‘rosto de fumante’ foram descritas nesses estudos e incluem: rugas faciais proeminentes, proeminência dos contornos ósseos subjacentes e pele seca e vermelha", explica a médica.
Além disso, fumar tem sido associado a vários distúrbios do cabelo e das unhas, como alopecia androgenética, cabelo grisalho prematuro, unhas de fumante e pelos faciais descoloridos, dado que, segundo Paola, as substâncias tóxicas do cigarro também levam a um quadro altamente inflamatório. Com isso, há uma sensibilização da região, que pode sofrer com irritação, dermatite seborreica, afinamento, quebra dos fios e queda capilar.
A dermatologista alerta também para outras condições como lúpus, câncer de pele, desordens vasculares, psoríase e acne inversa.
Combatendo o tabagismo
O processo de deixar o vício é lento, difícil e, até mesmo, doloroso para o fumante. Além da dependência química das substâncias presentes no cigarro, algumas pessoas precisarão enfrentar também a dependência emocional criada acerca da droga. Pois, muitas vezes, o cigarro pode ser usado como um escape para situações difíceis.
Começar é o passo necessário para ter sucesso nesse objetivo, portanto, incentive a si mesmo ou a quem esteja precisando largar o tabaco a iniciar essa jornada. Uma parte importante desse tratamento é ter uma rede de apoio composta por familiares e amigos, e auxílio psicológico para lidar com a sensação de abstinência.
Atualmente, o mercado oferece uma gama de produtos que auxiliam nesse "desmame", como adesivos para a pele, remédios, florais, entre outros. Embora sejam muito efetivos, é fundamental consultar um médico antes de usá-los, dado que cada organismo poderá reagir de uma maneira diferente às fórmulas. Sendo assim, orientação e supervisão profissional são imprescindíveis.
A alimentação como aliada
A alimentação também pode tornar a deixada da dependência mais tranquila e natural, pois conta com os estímulos que cada alimento causa no corpo. Em parceria com a equipe de nutrição da Bio Mundo, franquia de alimentos naturais e saudáveis, listamos 5 opções para ajudar nesse processo:
- Chá de ervas - além de ser uma bebida natural à base de água, os chás são calmantes e uma boa opção para substituir o café. A grande dica é realmente tirar da dieta bebidas que contenham cafeína, substância que aumenta o desejo pelo cigarro, diminuindo a ansiedade - fator diretamente ligado à vontade de fumar.
- Laranja - o cigarro causa uma perda de nutrientes, entre eles a vitamina C, assim, fazer a reposição ingerindo a fruta fará com que o fumante sinta menos necessidade da droga. Com o retorno da vitamina ao organismo, o corpo não a buscará na nicotina.
- Óleo de linhaça - rico em ômega 3, o óleo de linhaça estimula a liberação da serotonina, hormônio responsável por equilibrar o humor, fator importante para quem quer parar de fumar. Além disso, essa substância está relacionada a perda de peso, já que, ao parar de fumar, algumas pessoas notam o ganho de calorias.
- Castanha-do-pará - com alto poder antioxidante, ela auxiliará na prevenção de doenças e fortalecimento do sistema imunológico, melhorando também o humor. Consumindo poucas unidades ao dia já é possível atingir a recomendação diária de nutrientes responsáveis por melhorar o cansaço, a tristeza e ansiedade.
- Leite - um copo de leite também pode ser um grande aliado nessa luta. Pesquisas confirmam que tanto o leite quanto os seus derivados, como queijo ou iogurte, ajudam a eliminar a nicotina do organismo do fumante, e também alteram o sabor do cigarro.
Acupuntura também pode ajudar
Outra alternativa que pode ser usada para complementar o tratamento é a acupuntura. Segundo Juliana Monticelli, médica acupunturista do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, a prática consiste em um procedimento seguro e pode ser recebida por qualquer pessoa independentemente da faixa etária, tendo o agulhamento restrito apenas em alguns pontos específicos para gestantes. No caso da eletroacupuntura, pacientes que usam marca-passo têm contra-indicação, por isso, consulte sempre um especialista.
A profissional explica que o tratamento do tabagismo é realizado através da inserção de agulhas em pontos específicos do corpo humano, isso irá proporcionar o aumento da liberação de endorfinas e encefalinas pelo sistema nervoso central, excitando a via neural de recompensa. "Assim, a acupuntura inibirá a excitação dos receptores para a nicotina, diminuindo a intensidade dos sintomas de privação ou síndrome de abstinência nos tabagistas", esclarece.
Auriculoterapia ou acupuntura auricular e acupuntura sistêmica são as técnicas mais potentes para o tratamento, de acordo com a médica, mas outras também poderão ser empregadas, mesmo que em menor proporção.
Consultoria: Dante Senra, cardiologista e PHD pela Universidade de São Paulo (USP); Jamal Azzam, otorrinolaringologista na Clínica Jamal; Nelson Morrone Junior, pneumologista; Fernando Leão, urologista e cirurgião robótico; Paola Pomerantezeff, dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD); Bio Mundo, franquia de alimentos naturais e saudáveis; e Juliana Monticelli, médica acupunturista do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura.