Um tema polêmico desde sempre, a apropriação cultural vem sendo debatida há alguns anos no Brasil, mas ultimamente, cada vez mais o assunto vem à tona.
Na segunda (27), a atriz Vanessa Hudgens foi criticada por utilizar um filtro dos sonhos em seu cabelo em uma série de fotografias para um ensaio de moda. Muitos internautas consideraram o uso do adereço como apropriação cultural. “Você sempre sai de seu caminho para desrespeitar as culturas. É rude!”, escreveu um deles. Segundo os seguidores, o objeto é originário dos povos indígenas que existiam na América do Norte e por isso o uso indiscriminado seria desrespeitoso.
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Mas afinal, você sabe o que é apropriação cultural?
A blogueira e ativista negra Stephanie Ribeiro explica a questão. “O caso é que ninguém é realmente proibido de nada, mas vivemos num mundo onde há séculos uma cultura é dominante e imposta, o modelo a ser seguido é o europeu, consequentemente, o padrão estético é o ocidental e branco”, revela.
Isso quer dizer que com o tempo, diversos símbolos acabam sendo excluídos dos seus costumes e significados originais. “O pior lado disso tudo é que a exclusão vem quando a tradição se torna um bem de consumo caro e de acesso restrito, ou seja, vira ‘modinha‘”, escreve Stephanie. Pessoas negras que protagonizam aquelas tradições, por exemplo, ao usar dão outro significado ao adereço. “Se torna político, de resistência e empoderamento”, explica Stephanie na Capitolina.
Por isso no Brasil o uso de turbantes e dreads, por exemplo, gera polêmicas quando são utilizados por pessoas brancas, e especialmente quando surgem em editorias de moda – geralmente com modelos ou atrizes brancas estrelando, também.
A estudante Rachel Furtado também traduz a questão em um texto no Facebook. “Na nossa sociedade, pessoas brancas podem se utilizar de elementos ou identidades de outras culturas e isso será visto como “fofo”, “indie” e “exótico.” Mas, no momento em que uma pessoa não branca que é parte daquela cultura resolve exigir para si o direito de usar vestimentas de sua cultura, de falar sua língua, de praticar rituais, danças ou costumes da sua tradição cultural, esta pessoa será discriminada”, escreve.
Segundo Rachel, o que acaba acontecendo é que as pessoas que fazem parte dessas culturas e tradições acabam sendo estereotipadas e sofrem muitas críticas, além de serem vistas como “estranhas“. Para ela, essa é uma das faces da apropriação cultural.
Claro que ninguém vai te proibir de usar os adereços que sentir vontade. Mas, para as ativistas, tudo perpassa uma questão de respeito às culturas que originaram aqueles adereços, e a não perder ou deixar ser apagado o significado original desses símbolos. “A cultura é a marca de um povo, não vivemos sem cultura, e determinados povos mantém a sua mesmo que ela tenha sido intensamente perseguida, por isso a necessidade de reafirmar o protagonismo ganha peso”, explica Stephanie.