Malu: Gostaria que você falasse um pouco sobre o que vai mudar na sua vida após a condenação do casal Alexandre Nardoni e da Ana Jatobá, dois anos depois da morte da Isabella?
Ana Carolina Oliveira: Na verdade, o que vai mudar eu não sei ainda. Eu não consegui retomar a minha vida. O fato da condenação dá um alívio, mas não vai trazer minha filha de volta. Mas eu vou tentar retomar a vida agora de uma maneira porque durante esses dois anos foi mais difícil.
Malu: Você chegou a pensar, logo que você recebeu a notícia sobre a queda da Isabella, ou mesmo quando você chegou ao local onde aconteceu o crime, que o casal Nardoni poderia ter alguma coisa a ver com a queda da Isabella?
Ana Carolina Oliveira: A princípio, no dia mesmo, você não tem o que pensar. Eu fiquei tão desesperada com a situação que eu não conseguia pensar em nada, nem nessa hipótese. A minha intenção era salvar a Isabella. Mas logo depois já veio a desconfiança, uma dúvida de que eles estivessem envolvidos sim.
Malu: Antes de acontecer o crime, algum dia eles demonstraram que poderiam fazer algum mal para a Isabella?
Ana Carolina Oliveira: Não. Nunca. É que eu não tenho uma cabeça que pense dessa maneira. Eu acredito que, como mina cabeça não pensa isso, eu penso que nenhum ser humano possa cometer. Eu sempre vivi nessa confiança de que ele ia protegê-la e, como pai, jamais faria alguma coisa com a Isabella.
Malu: Você e o Alexandre chegaram a viver uma história de amor até quando vocês tiveram a Isabella? Como vocês se conheceram?
Ana Carolina Oliveira: Nós nos conhecemos através de amigos. Tivemos uma história, namoramos uns três anos e meio. E aí veio a minha filha depois de um ano e meio, quase dois de relacionamento. A gente viveu um relacionamento normal. E, depois da nossa filha, a gente terminou quando ela tinha onze meses.
Malu: Qual foi a importância da sua família com relação ao apoio que todos te deram depois da morte da Isabella?
Ana Carolina Oliveira: Eu acho que foi depois e foi antes também. Minha família é a minha base. Foi quem me ensinou a crescer, a ter meus princípios e os meus valores. Então, foi nessa base que eu me apoiei depois da minha filha. Eles me deram todo apoio e, tudo o que eu precisei, eles estavam do meu lado. Então, eu acho que a educação que eles me deram foi a base para eu conseguir viver tudo o que eu vivi depois.
Malu: Você se considera uma pessoa de muita fé? Você é uma pessoa religiosa? E como funciona a religião na sua vida?
Ana Carolina Oliveira: Sim. Essa fé vem de antes de tudo acontecer. Eu acredito muito em Deus. Eu tenho muita fé. Eu oro bastante. E acho que isso vem de dentro de você, vem do coração, da fé que você tem para que seus problemas, suas alegrias e tristezas, que faz com que tudo dê certo na sua vida. É a fé e eu tenho muita.
Malu: Você tem algum santo de devoção?
Ana Carolina Oliveira: Não. Santo específico não. Só quando chove, como minha mãe, Santa Bárbara!
Malu: A sua família também é bem religiosa? A Isabella foi batizada na igreja católica. Essa fé em família também ajudou nesse período difícil?
Ana Carolina Oliveira: Com certeza. Minha família tem muita fé. Acho fé que está no coração da gente. Essa fé que eu trouxe da minha família, que é minha base, é meu porto seguro.
Malu: E quais os seus planos daqui para frente? Você consegue planejar coisas na sua vida a logo prazo?
Ana Carolina Oliveira: Eu não tenho conseguido pensar a longo prazo. Estou vivendo um dia de cada vez para retomar porque é difícil. Eu não estou sabendo por onde começar. De que princípio partir. A minha vida desmoronou. Aí, veio essa história toda do julgamento. Mas eu estou tentando. Não sei de onde eu começo. Estou confusa ainda. Mas seja o que Deus quiser.
VMalu: ocê é uma menina. Você está com quantos anos?
Ana Carolina Oliveira: Estou com 26 anos.
Malu: Depois da morte da Isabella, você acha que se transformou em mulher madura com essa fatalidade?
Ana Carolina Oliveira: Na verdade, eu acho que eu amadureci quando eu descobri que ia ser mãe. É o amadurecimento natural da vida. Mas, com certeza, depois desses dois anos, como meu terapeuta diz, amadurecer dói. Então, foi um amadurecimento avançado nesses dois últimos anos. Não que eu não me sentisse uma pessoa madura. Muito pelo contrário. Eu tinha minha filha e minha responsabilidade como mãe. Mas, com certeza, mudou. Os princípios, pensar nas coisas, em tudo o que eu passei, em tudo o que eu vivi. Eu tenho certeza que a maioria das mulheres, das meninas da minha idade não passou pela metade do que eu passei.
Malu: Você pretende fundar uma ONG para apoiar as mães que perderam seus filhos de maneira violenta?
Ana Carolina Oliveira: Olha, eu já pensei e já não pensei. Porque eu acho que fundar uma ONG não é uma coisa fácil, envolve muita coisa, muitas responsabilidades. Eu tenho o meu trabalho hoje. Acho que fundar uma ONG tem que ser um trabalho dedicado integralmente. Eu, hoje, não tenho tempo para isso. Até porque eu tenho algumas amigas que estão me ajudando, eu faço trabalhos sociais, mas não relacionados a isso. A ONG agora eu não sei. Só se surgir alguma ideia muito boa, com algumas pessoas que já saibam disso. E então, quem sabe? Eu não descarto, mas não é uma ideia minha de agora.
Malu: Você é reconhecida nas ruas? Como as pessoas costumam reagir quando percebem quem é você? Elas ficam mais distantes ou se aproximam?
Ana Carolina Oliveira: Cada uma tem uma reação. Tem pessoas que querem vir falar, dar uma palavra de apoio. Outras quem dar um abraço, um beijo. Tem outras que olham de longe, apontam, ficam se questionando será que é será que não é. Mas tenho sido reconhecida principalmente depois do julgamento, que eu apareci bastante e tenho sido muito reconhecida.
Malu: A Glória Perez, que uma autora de novelas e minisséries, acompanhou o julgamento e deu bastante apoio nesse período. Ela também perdeu a filha de maneira violenta. A minha pergunta é se algum produtor, autor, diretor já procurou você para escrever contando a história sobre o aso da Isabella?
Ana Carolina Oliveira: Não. Nunca me procuraram. Não.
Malu: Qual a lembrança mais forte que você tem da Isabella?
Ana Carolina Oliveira: Eu não tenho uma lembrança específica porque eu acho que é um conjunto. Ela era uma criança e cada dia tinha uma novidade. Cada dia era uma coisa nova. Então, tudo lembra ela. Principalmente essa fase de escola, que ela estava sendo alfabetizada. Ela tinha muita vontade de aprender a ler, a escrever direitinho. Então, eu acho que isso é uma coisa que estaria bem diferente depois de dois anos. Essa é uma coisa que eu gostaria muito de ter visto. A alfabetização dela.
Malu: Existe uma série na tv em que uma jovem entra em contato com entes queridos que morreram para passar alguma mensagem para quem ficou vivo. Teria alguma mensagem que você gostaria de passar para a Isabella?
Ana Carolina Oliveira: Na verdade, eu faço tudo isso nas minhas orações. É uma coisa pessoal comigo. Eu converso sempre com ela, onde eu estou, no carro, dirigindo, em casa. Estou sempre pensando nela, sempre falando com ela. É uma coisa mais minha, eu e ela.
Malu: Você comentou que está fazendo terapia. A terapia ajudou a você ter força para
seguir em frente?
Ana Carolina Oliveira: Muito. A terapia também foi uma base para mim. Para eu me reestruturar e me reencontrar. Porque na época da morte da Isabella, eu fiquei muito perdida. Foi tudo muito difícil para mim. Mas a terapia me ajudou e continua me ajudando porque eu continuo fazendo terapia até hoje.
Você já fazia terapia antes?
Ana Carolina Oliveira: Eu fui na terapia alguma vez, mas não tive a necessidade que eu sinto hoje. Eu fui mesmo para conhecer e saber como era. Mas hoje eu realmente preciso.
Malu: E como é que você costuma se lembrar da Isabella? Você fez um painel com fotos dela?
Ana Carolina Oliveira: A lembrança da Isabella para mim é diária. É eterna. Eu não preciso de nada material para que eu me lembre dela. Mas eu fiz no me quanto um painel. A coisa mais linda. Eu fiz um papel de parede de fotos. Tem 100 fotos de todos os momentos, grávida, durante a primeira mamada, tem tudo. Então, para mim esse painel é como se fosse uma retrospectiva do que vivemos em 5 anos.
Malu: Gostaria de saber sobre uma história que andaram dizendo que você adotaria os filhos da Ana Jatobá. De onde surgiu essa informação e gostaria que você confirmasse se é verdadeira?
Ana Carolina Oliveira: Essa polêmica que apareceu. Não é nada disso. A mensagem que eu deixei é que eu tenho um carinho muito grande por eles. Eu conheci os filhos deles. Eu tive oportunidade de conviver com o Pietro dois dias antes. Na quinta-feira (antes da morte da Isabella) ele estava na minha casa e eu cuidei dele, dei banho nele. Ele foi embora com roupas da minha filha. Eu tenho um carinho muito grande e ele tinha um carinho muito grande pela minha filha. O que eu disse é que eu tenho uma imensa vontade de dar um abraço nele. Mas, em relação a criar eu não falei nada de que eu quero criá-los! O que eu já disse é que se ninguém tivesse condição de criá-los, eu faria isso com o maior prazer. Isso não quer dizer que eu vou lá pedir a guarda deles. Não tem nada a ver as pessoas dizerem que eu quero pegar os meninos para criar. E eu pedir a guarda dos meninos é um absurdo porque eles têm família. Espero que eles sejam muito bem criados pela família deles. Mas não tem nada a ver eu querer criar os meninos. As pessoas confundem muito, infelizmente, mas foi isso o que eu disse.
Malu: Qual a mensagem que você pode passar para a leitora? Existe algo que você não falou e que gostaria de falar?
Ana Carolina Oliveira: Eu acho que a melhor mensagem é: Dê uma boa base, uma boa educação para seus filhos porque eu acho que educação começa de casa. Para que não haja violência. Tudo pode ser resolvido com uma conversa, principalmente com criança. Eu acho que, com criança, as coisas se resolvem com conversa. Agressividade não leva nada ninguém. Conversa, senta, olha no olho porque um simples tapa dentro de casa para repreender é uma criança revoltada de amanhã, um adolescente depois de amanhã e um adulto daqui um tempo. Então, eu acho que tem que se rever conceitos de violência, principalmente, dentro de casa.
Entrevista: Clayton Gallo/Colaborador
Foto: Almeida Rocha