Usar muito o celular não causa câncer (pelo menos ainda não está comprovado cientificamente). Mas sim, o excesso do uso do dispositivo em nossas vidas pode trazer malefícios ao bem-estar. Apesar de não se tratar de um mal físico, deixa vulnerável o sistema nervoso, já que colabora para a produção de hormônios, como a adrenalina e o cortisol, e neurotransmissores, como a dopamina, que interferem diretamente no funcionamento cerebral. Assim, o uso de tecnologia sem consciência pode desencadear diversos distúrbios, entre eles, o transtorno de ansiedade.
“Normalmente, quando se configura um quadro patológico, no qual há nítidos prejuízos ocupacionais e sociais ao indivíduo, o uso da tecnologia se inicia de forma descontraída e gradativa. Sem que a pessoa perceba, vai adquirindo primazia sobre outras atividades diárias, que passam para segundo plano”, afirma o psicólogo Mateus Martinez.
Sem perder tempo
A internet trouxe com ela uma conectividade interpessoal nunca antes vista na história do ser humano. Pessoas se comunicam, se informam, fecham negócios e fazem muitas outras ações em uma velocidade quase que instantânea. “Estamos vivendo em um mundo cada vez mais rápido, em que tudo se resolve de forma imediata. Antigamente, uma pessoa respondia um e-mail três dias depois de recebido; hoje, o e-mail chega e ela já está respondendo — isso sem falar do WhatsApp e outros aplicativos comunicadores”, destaca o neuropsicólogo Aristides Brito.
Para acentuar as facilidades da internet, o desenvolvimento dos mobiles, isto é, aparelhos móveis, como smartphones e tablets, colabora para ter as tecnologias, literalmente, sempre em mãos.
A prontidão dos aparelhos acaba gerando um estresse em estar sempre conectado com tudo e com todos. “Cada vez que utilizamos uma ferramenta dessas, acreditamos que estão nos ajudando a melhorar a qualidade de vida, afinal, tem este apelo, mas geralmente ela acaba roubando nosso tempo e dividindo nossa atenção. Com o acúmulo de atividades, nos tornamos mais ansiosos, por resultados cada vez mais rápidos”, explica Brito.
No entanto, é importante destacar que não é a tecnologia em si que causa patologias, como a ansiedade, mas a maneira que as pessoas fazem uso dela. “É sempre recomendável que os usuários tenham claros os limites do uso da tecnologia, quais as motivações e sentidos pessoais do uso, bem como sua importância, benefícios e prejuízos”, aponta Martinez.
O especialista ressalta que, caso o autogerenciamento não esteja sendo eficaz para um uso sem prejuízos à saúde, é recomendável que a pessoa busque ajude de um psicólogo. O profissional será capaz de identificar se há algum problema e instruirá medidas para se levar uma vida sem dependência.
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Consultorias: Aristides Brito, neuropsicólogo; Mateus Martinez, psicólogo do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática (NPPI) da PUC-SP.
Texto: Natália Negretti – Entrevistas: Giovane Rocha/Colaborador e Natália Negretti – Edição: Augusto Biason/Colaborador