Torturas, violência psicológica, privação de sono e comida, isolamento e dominação. Descrevendo assim, uma lavagem cerebral até parece coisa de filme. No entanto, a prática para acessar e manipular o consciente e o inconsciente alheio à força é mais comum do que se imagina – e, que muitas vezes, não é preciso lançar mão de atos violentos.
O que é lavagem cerebral
O conceito de lavagem cerebral remete a um termo em mandarim hsi-nao, usado na meditação para definir a limpeza da mente ou do coração, que passou a ser usado no ocidente durante a Guerra da Coreia, de 1950 a 1953, para descrever o comportamento de soldados norte-americanos que, após um período capturados, voltavam aos Estados Unidos defendendo ideias comunistas.
Visando o controle e a manipulação de um indivíduo para benefício e interesse do persuasor, a lavagem cerebral “consiste em um método e práticas de persuasão e convencimento que envolvem o desconhecido, ou seja, o elemento surpresa, emoções e sensações fortes e condicionamento”, como explica o psicólogo Breno Rosostolato.
Essas ações podem se dar de forma direta e explícita (caso de torturas) ou veladas, caso de seitas e religiões. O tanto de publicidade, que é despejado diariamente por meio dos meios de comunicação em qualquer pessoa que viva em uma civilização, também pode ser considerado um tipo de lavagem cerebral mais leve, já que não há nenhum tipo de violência física ou mental — ainda que há quem defenda que é somente um tipo de persuasão.
Na prática
Há diversas técnicas usadas para se conseguir dominar a mente alheia, das sutis às mais violentas. O primeiro passo é escolher a vítima: jovens ainda em busca de uma identidade própria e pessoas emocionalmente abatidas são os alvos mais fáceis.
Em seguida, a vítima é acolhida no grupo por meio de conversas ou eventos, como palestras e festas. Antes mesmo de a pessoa se dar conta, ela já criou vínculos. A partir daí, há várias tentativas de convencimento sobre a ideologia, apresentação de um líder mor e grande envolvimento nas tarefas da equipe — o que gera isolamento de quem não pertence ao grupo. “Muitas áreas de conhecimento se valem da lavagem cerebral para se criar uma seita, um partido, um grupo de pessoas que compartilham e compactuam com os mesmos ideais. A ideologia tanto pode ser positiva quanto negativa, e a maneira como ela é transmitida que se caracteriza em uma lavagem cerebral”, afirma Breno.
Após um período, o indivíduo está tão envolvido que acredita ser justificável qualquer sacrifício em nome da ideologia, tomando, muitas vezes, atitudes até então impensáveis. “As pessoas acreditam ter convicções pessoais, mas que na verdade, são frutos de uma massificação, ou seja, o indivíduo perde sua unidade para fazer parte de uma massa que repete e reproduz os ideais de alguns, estabelecendo uma relação de dependência e falta de crítica”, expõe o psicólogo. No fim, a vítima está tão dominada pelo medo que não consegue questionar racionalmente a situação.
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Consultoria: Breno Rosostolato, psicólogo clínico e professor da Faculdade Santa Marcelina (FASM), em São Paulo (SP).
Texto: Natália Negretti