Investigações promovidas atualmente estão comprovando, cada vez mais, a relação entre genética e depressão. Uma pesquisa conduzida por estudiosos da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, avaliou 424 pais deprimidos e 143 filhos de pessoas desse grupo. Ao mesmo tempo, em outro grupo, acompanhou o mesmo número de pais sem depressão e 197 filhos.
Depois de 23 anos de estudos, os resultados demonstraram que os filhos adultos dos indivíduos deprimidos possuem maior propensão aos sintomas da depressão (assim como mais problemas físicos e emocionais) quando comparados aos filhos dos pais saudáveis. Além disso, 70% dos que possuíam pais portadores do distúrbio alegaram ter outros membros da família com o mesmo quadro, enquanto apenas 45% do outro grupo relatou o mesmo caso.
Em 2016, um artigo publicado na revista científica Nature Genetics evidenciou 17 variações genéticas ligadas ao transtorno ao analisar perfis de genes de mais de 450 mil voluntários, dentre os quais 121 mil declararam possuir histórico de depressão. De acordo com a professora de neuroanatomia e neurobiologia Marta Relvas, fatores genéticos representam papéis importantes no desenvolvimento do transtorno do humor depressivo, que apresenta característica de herança genética quantitativa, ou seja, uma gravidade gradual de sintomas.
“Por causa de seus fenótipos contínuos de apresentação, o distúrbio possui um padrão de transmissão de herança não mendeliana e, em geral, ocorre em famílias com um modo de herança complexo – provavelmente multifatorial poligênico, resultante da interação de múltiplos genes de vulnerabilidade com o ambiente”, explica. A professora também ressalta que essa abordagem orienta que patologias ligadas à depressão podem ser causadas por fatores ambientais e que os genes influenciam as suscetibilidades desses fatores.
Um mundo de razões
Os nossos genes criam tendências, mas são as condições externas que motivam o transtorno. Grandes traumas, como doenças e a perda de pessoas queridas, também são capazes de gerar o quadro depressivo por estabelecerem mudanças repentinas e significativas na vida das pessoas. Contudo, ainda existem cenários em que o declínio gradativo do emocional produz o mesmo efeito. Fatos como problemas no relacionamento amoroso, desentendimentos familiares e insatisfação profissional colaboram com a perda de perspectiva.
“O mais incrível não é simplesmente o fator externo, mas a interpretação deste. Quando a pessoa se vê para baixo, acha que o mundo está contra ela e não consegue enfrentar as situações que a vida apresenta, atitude que desencadeia a depressão. Assim, vários sistemas neurais são enfraquecidos e o córtex pré-frontal direito começa a ser ativado. Então, há uma junção de elementos que podem ser considerados causadores: situação, interpretação, sistema neurológico de neurotransmissores e ativação do córtex pré-frontal”, salienta a psicóloga e coach Graziela Vanni.
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Consultorias: Graziela Vanni, psicóloga e coach; Marta Relvas, professora de neurobiologia e neuroanatomia.
Texto: Érika Alfaro/Colaboradora – Entrevistas: Victor Santos e Giovane Rocha/Colaborador – Edição: Augusto Biason/Colaborador