Cerca de 1,5 bilhão de pessoas, espalhadas ao redor de 91 países diferentes, enquadram-se na condição de “pobreza multidimensional, enfrentando privações de saúde, educação, segurança e outros aspectos indispensáveis para se ter qualidade de vida. Outros 800 milhões, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2014, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), podem ser classificados como “em risco de pobreza”.
Levando-se em conta que a população mundial gira em torno de 7 bilhões de pessoas, quase um terço da humanidade não vive em condições ideais. Muitos afirmam que o caminho dos estudos é a melhor forma de ascensão econômica e social. No entanto, pesquisas comprovando o impacto negativo da pobreza para o desenvolvimento intelectual (sobretudo no caso das crianças) acusam a possibilidade de um círculo vicioso, em que os desfavorecidos socialmente se encontram desprovidos do principal recurso que poderia lhes permitir virar o jogo.
Pobreza e desenvolvimento intelectual
Um dos estudos mais conhecidos a respeito da influência negativa da pobreza sobre a inteligência partiu dos psicólogos Martha Farah e Daniel Hackman, da Universidade da Filadélfia, nos Estados Unidos. Sua pesquisa, publicada em 2009 no periódico Trends in Cognitive Sciences, observou, entre outros resultados, que crianças de melhor status socioeconômico apresentaram melhores resultados em testes que avaliaram suas capacidades cognitivas, incluindo testes de Quociente de Inteligência (QI), habilidades de fala e escrita e funções executivas – o planejamento e execução de tarefas.
Outra análise mais recente, publicada em março de 2015 na revista Nature Neuroscience, caminha na mesma direção. A equipe de Elizabeth Sowell, pesquisadora da Universidade do Sul da Califórnia, analisou, por meio de ressonância magnética, o cérebro de 1.009 meninos e meninas de três a 20 anos de idade, pertencentes a diferentes faixas da população, enquanto, ao mesmo tempo, foram submetidos a testes cognitivos. A conclusão: filhos de pais mais ricos e com maior grau de instrução apresentaram uma maior área de superfície cerebral, ou seja, a diferença chega a ser fisiológica.
Para esse parecer, foram feitas, inclusive, correções quanto a outros fatores que poderiam influenciar no tamanho do cérebro, como a ascendência genética dos pesquisados. A discrepância foi visível principalmente na área do córtex, desenvolvida em sua maior parte graças a estímulos fornecidos durante a infância e adolescência – estudos com cérebros de humanos e de animais já mostraram que, nesse ponto, a influência dos genes é menos preponderante.
Leia também:
Fatores que estimulam e atrapalham o desenvolvimento infantil
O estresse pode prejudicar o seu intelecto: descubra por que
Texto: Marcelo Ricciardi/Colaborador – Edição: Victor Santos
Consultoria: Marília Freitas Rossi, pedagoga