Na última semana, uma campanha do Governador do México, Miguel Ángel Mancera, para combater o abuso sexual viralizou nas redes. Ele lançou uma iniciativa “genial”, sugerindo que mulheres combatessem o estupro de uma forma rápida e fácil: usando um apito. É claro que a campanha foi largamente criticada nas redes sociais. As pessoas começaram a se perguntar: usar um apito pode realmente evitar que as mulheres sejam vítimas de violências e abusos sexuais? “Se nem gritar funciona, como isso vai funcionar?“, questionou uma usuária do Twitter.
¿Estás siendo acosada? KEEP CALM AND… #ElPitoDeMancera ? pic.twitter.com/hYu2wZkNl0
— Armando (@mandorivetts) May 26, 2016
“Mantenha a calma e assopre o apito”
Mas essa foi só uma das sugestões que homens têm dado para que mulheres combatam o estupro e os abusos sexuais. Além de beirar o absurdo, essas ideias ignoram a raiz do problema. Segundo Holly Kearl, fundadora da ONG Parem o Assédio, as autoridades devem se concentrar em educar as crianças na idade escolar de que essa conduta não é correta, e punir a representação das mulheres como objetos sexuais na mídia.
Confira algumas ideias que beiram o absurdo:
1. Chame-o de “irmão”
Um guru espiritual da índia deu uma ótima sugestão. Segundo ele, chamar o estuprador de “irmão” e pedir para ele parar pode evitar todo o incidente. Como não pensamos nisso antes?
2. Proibir os shows sensuais
Ou ainda, as autoridades poderiam simplesmente proibir os eventos sensuais que, de acordo com os conselhos de um velho guru na Índia, produzem desequilíbrio hormonal nos homens, e portanto, o estupro.
3. Melhor não ir ao mercado
Já o prefeito de um município na Turquia lançou outra sugestão inteligente para evitar que mulheres sejam estupradas: “ficar em casa“. Nem pensem em sair para trabalhar, estudar ou ir ao mercado, mulheres!
Pena que essa ideia genial não funcionaria por aqui, já que mais da metade das vítimas de estupro no Brasil tem menos de 13 anos. Infelizmente, 60% dos casos de abuso sexual acontecem justamente nas residências das vítimas, e 63% das vezes por parentes próximos. Ou seja, o maior número de pessoas abusadas são crianças e adolescentes, e o maior número de agressores são amigos, namorados, pai e padrastos. O estudo é do Departamento de análise de Situação de Saúde.
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4. Não beba
Quase 100% das vezes a vítima de um abuso sexual é recebida pela pergunta fatal: você bebeu? Afinal, na concepção de várias pessoas, mulheres que bebem estão mais “suscetíveis” a serem vítimas. Na verdade, é preciso entender que não importa o estado da vítima no momento – se a relação não foi consentida, então é estupro. Afinal, por que mulheres não podem sair para beber e se divertir sem ficar com medo?
5. Cabelo comprido? De jeito nenhum!
Um Policial Militar do Estado de São Paulo certa vez sugeriu numa palestra dicas para “evitar ser estuprada”. Sua principal orientação era: não tenha os cabelos compridos. Na sua concepção, mulheres de cabelo comprido estão mais suscetíveis a sofrerem ataques sexuais porque são mais “provocantes” e mais “fáceis de agarrar”…
Texto: Thamires Motta