Para a grande maioria dos cristãos, a crucificação foi o episódio mais importante da vida de Jesus, pois, conforme diz a Bíblia, foi ela quem ofereceu aos seres humanos o perdão pelos seus pecados. Para os historiadores, o episódio também é considerado o mais importante, por ser o único ponto da história de Cristo que se pode dar como certeza através das escrituras bíblicas.
As escrituras de uma morte sem culpados
Segundo os escritos do Novo Testamento, na Jerusalém do século I, Jesus de Nazaré foi acusado de blasfêmia por se declarar o Filho de Deus. Os líderes judeus, junto com as súplicas do povo, decidiram, então, enviar Jesus ao governador romano Pôncio Pilatos para executá-lo e crucificá-lo.
A morte de Jesus não foi um mero acidente. E, é aí que o problema começa: as escrituras foram registradas décadas depois, além do fato que nem mesmo os discípulos acompanharam o julgamento. Nenhuma linha foi registrada pela elite sacerdotal ou pelo poder romano – eles não acreditavam que Cristo era o verdadeiro Messias e o consideravam uma pessoa insignificante.
Não existir nenhum corpo aumenta a dificuldade nas investigações. No entanto, a pergunta que ainda se faz presente é: quem o matou? Alguns historiadores revelam os principais quatro suspeitos de tal façanha: os sacerdotes judeus, os romanos, o povo judeu e o próprio Jesus.
Primeiro acusado: os sacerdotes
O que Jesus cometeu de tão grave para ser morto com tanta brutalidade? As atitudes de Cristo em seus primeiros dias na cidade não foram tão pacíficas assim, e os Evangelhos explicam: numa visita ao Templo de Jerusalém, Jesus expulsa furiosamente os vendedores de animais e comerciantes instalados nos arredores. “Não façam da casa de meu Pai um mercado!”, vociferava.
Os camelôs da época eram grandes estruturas de arrecadações e trocas, chamados de Templos. Chegavam a empregar 18 mil homens e era algo como o Banco Central da Judeia. Sua atitude foi coerente, se pensada pelo ponto de vista de que ele pregava por uma sociedade igualitária, e as atitudes expostas ali no comércio eram contrárias ao que defendia. Jesus chamou a atenção dos responsáveis pelo Templo, que, logo em seguida, o prenderam e o condenaram à morte, já que Jesus continuava a afirmar ser o verdadeiro Messias.
O direito de aplicar a pena de morte na época era exclusividade dos romanos e, perante essa delimitação, os chefes religiosos tiveram uma única saída: entregar Jesus aos romanos.
Segundo acusado: os romanos
Com base nos interesses econômicos, Pilatos deveria apenas executar um desconhecido, a fim de evitar atritos com líderes judaicos para não atrapalhar o fluxo de impostos arrecadados para a capital. A questão é: os romanos tinham um líder que, de acordo com os sacerdotes, se dizia maior que Moisés, o Rei dos Judeus. No entanto, porque então o procurador romano aparece na Bíblia todo preocupado com a inocência de Jesus? Historiadores acreditam que o que está em jogo ali é a absolvição de Pilatos.
Nos textos canônicos, o Evangelho de Pedro, escrito 40 anos após a crucificação, pode ter influenciado para sempre a imagem de Pilatos. Em meio a uma pacífica história entre romanos e judaicos, o Evangelho teria sido então redigido, o que interviu perante as escrituras, parecendo assim, inocente e até mesmo a favor de Jesus.
Terceiro acusado: o povo judeu
A história conta que Pilatos sugeriu aos judeus escolher entre inocentar Cristo ou um bandido, chamado Barrabás. A multidão escolheu o segundo. Essa ocorrência é vista como a menos verossímil do Novo Testamento. Pesquisadores supõem que tudo isso pode ter sido formado contra os judeus.
Mas, o fato ainda continua confuso: por qual motivo os judeus agiriam contra o próprio povo? A explicação se encontra no Evangelho de Marcos. Diante de uma guerra contra os romanos, um grupo violento lutava pelos judeus: os zelotes. Esse grupo tinha total apoio da população, a qual teria escolhido a luta armada em vez da salvação pacífica exposta por Jesus.
Quarto acusado: o próprio Jesus
A possibilidade de que ele mesmo teria escolhido o mártir não pode ser descartada. Nos escritos de João, Jesus acalma seus discípulos e aguarda sua prisão com serenidade. O que se passou diante dos pensamentos de Jesus quando resolveu desafiar o temível poder de seu tempo ainda não foi desvendado, mas deu certo.
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Texto: Nathália Piccoli